BLASFÉMIAS - Palmira F. da Silva
(um belo raccord com o post anterior)
Santo Agostinho Refutando os Hereges
(manuscrito iluminado do sec XIII)
"A palavra heresia, do grego haerĕsis, significa escolha, preferência, gosto particular, escolha filosófica, inclinação ou preferência filosófica ou por uma escola de pensamento. Já a etimologia de outra palavra intimamente ligada, blasfémia - do grego blaptein, injuriar, e pheme, reputação -, indica-nos que na sua génese se referia a irreverência face a uma pessoa ou algo considerado de elevada estima.
Com o advento do cristianismo, ambas as palavras evoluíram, assumindo significados exclusivamente dirigidos para a religião cristã, isto é, heresia passou a ser uma declaração contra a fé cristã como interpretada pela hierarquia da Igreja e blasfémia perdeu a sua dimensão humana. A conjunção de ambas as palavras foi considerada especialmente grave, isto é, uma blasfémia herética, como dizer que Deus é um produto dos homens ou negar a natureza divina do Cristo, era (e aparentemente continua a ser) um «pecado» mortal dos mais graves (com isto significando durante muito tempo merecedor de morte).
É assim curioso o Desidério ter referido a palavra blasfémia no contexto do que tem acendido o De Rerum Natura, o artigo que escreveu para o Público de 24 de Dezembro sobre as observações «ecológicas» de Bento XVI. É curioso porque o artigo foi escrito ao mesmo tempo que a Assembleia Geral da ONU votava pelo quarto ano consecutivo uma resolução condenando a blasfémia, ou antes, a «difamação» da religião - a boa notícia nesta história é que o apoio à resolução tem diminuido consideravelmente ao longo dos anos, não obstante este ano a China e a Rússia terem decidido apoiar os estados islâmicos seus proponentes". (continuação aqui; a raíz aqui)
(2009)
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