ARREGALAR OLHOS
The Welcome Wagon - Welcome To The Welcome Wagon
Sufjan Stevens - Astral Inter Planet Space Captain Christmas Infinity Voyage
Umas continhas rápidas: aos 33 anos, do projecto – iniciado em 2003, com Greetings From Michigan, The Great Lake State – de gravar um álbum para cada um dos 50 estados norte-americanos, Sufjan Stevens, até agora, conta apenas com esse e Come On Feel The Illinoise, de 2005. Ora, mesmo que ele arrepie caminho e, daqui em diante, disciplinadamente, passe a gravar um por ano, será a um venerável octogenário que a grande nação americana deverá prestar a devida homenagem por altura da conclusão desse imenso painel musical. Longa vida, muito longa, pois, a Sufjan. Talvez, até necessariamente mais prolongada do que isso uma vez que, se o padrão em curso não se modificar, as cinco décadas irão ser francamente insuficientes: nestes últimos três anos, apenas publicou, em 2006, The Avalanche: Outtakes and Extras from the Illinois Album e a caixa de cinco EP, Songs for Christmas, e, este ano, Astral Inter Planet Space Captain Christmas Infinity Voyage (mais sete “Christmas carols” em formato “weird-Stevens) e, acima de tudo, Welcome To The Welcome Wagon - estreia do duo familiar Welcome Wagon mas, essencialmente, um novo álbum de Sufjan Stevens-sob-um-outro-nome que nele desempenhou as tarefas de produtor, engenheiro de som, arranjador e orquestrador.
Apresente-se, primeiro, as personagens envolvidas: Vito e Monique Aiuto, casal vizinho de Sufjan, em Brooklyn. Ambos naturais de Tecumseh, no Michigan, ela licenciada em Belas-Artes pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, ele escritor, poeta, estudante de Teologia em Princeton, e actualmente, pastor presbiteriano na Ressurection Presbyterian Church de Brooklyn a quem, em Greetings From Michigan, Stevens (conheceram-se quando frequentavam os dois um curso de escrita criativa, em 1999, na New School de Nova Iorque) dedicou "Vito's Ordination Song" que cantou durante a cerimónia da sua ordenação. Uma outra peça do puzzle já conhecida mas que convém aqui recordar: Sufjan Stevens, para além de candidato actual “most likely” ao trono de Brian Wilson, é também figura destacada da “pop cristã” norte-americana. Somemos, então, dois mais dois e, se nos apetecer especular desvairadamente um bocadinho, é altura de arregalar olhos agnósticos e ateus perante a intrigante coincidência de, entre a febril Brooklyn e os subúrbios de Lisboa, entre Presbiterianos novaiorquinos e Baptistas de Queluz, entre a Asthmatic Kitty e a FlorCaveira, ocorrerem algumas das mais surpreendentes aventuras musicais contemporâneas.
Porque Welcome To The Welcome Wagon, não dissimulando a “inspiração cristã” do que era, originalmente, a sua “traditional bluegrass Jesus music”, não hesita em incluir versões de temas dos Smiths (“Half A Person”) e dos Velvet Underground (apropriadamente... “Jesus”) pelo meio do programa de “pastor and wife join voices in sacred folk songs for all ages” que a capa anuncia mas no qual é obrigatório referir a gloriosa cenografia orquestral de Stevens que, à “naïveté” de Vito e Monique acrescenta bandas de sopros, coros gospel, alusões morriconianas e inúmeros outros detalhes de ourivesaria sonora que o transformam, indiscutivelmente, em coisa sufjiana. Exactamente o mesmo que acontece (a começar logo pelo título) em Astral Inter Planet Space Captain Christmas Infinity Voyage onde as sete “carols” – em particular, a primeira, “Angels We Have Heard On High”, espécie de consoada no Forbidden Planet de Louis e Bebe Barron – viram delirante e saborosa matéria-prima de “sci-fi” cristã.
(2009)
04 January 2009
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3 comments:
Olha que fixe! Eu tinha ouvido esses Welcome Wagon no reveillon e não me estava a conseguir lembrar do nome. Grata pelo serviço público, Irmão Lisboa.
Não tem que agradecer, Irmãzinha, somos uns para os outros.
«Somemos, então, dois mais dois e, se nos apetecer especular desvairadamente um bocadinho, é altura de arregalar olhos agnósticos e ateus perante a intrigante coincidência de, entre a febril Brooklyn e os subúrbios de Lisboa, entre Presbiterianos novaiorquinos e Baptistas de Queluz»
Isto já me parece delírio crítico. Irmão, tanta devoção também não...
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