15 October 2008

"ESTA DEMOCRACIA PORTUGUESA
VAI FICAR REDUZIDA A CACOS!"


Medina Carreira c/ Mário Crespo na SIC-N (14.10.08)









(2008)

11 comments:

Anonymous said...

É curioso que ele fale aí em endividamento:

«No plano político [Medina Carreira], exerceu o cargo de Subsecretário de Estado do Orçamento, durante o VI Governo Provisório (1975-1976), o qual deixou de exercer para assumir, logo de seguida, as funções de Ministro das Finanças do I Governo Constitucional (1976-1978). Foi nessa condição que negociou com o FMI, um empréstimo no valor de 750 milhões de dólares.»

Claro que estas coisas têm sempre um contexto. De qualquer maneira foi ele que começou com o endividamento...

João Lisboa said...

"Claro que estas coisas têm sempre um contexto"

E esse era bem diferente (aliás, ele fala disso).

De qualquer modo, a questão é: o que o MC diz sobre o que se passa agora é certo ou não? Do que conheço bem, é. Completamente.

Anonymous said...

Estamos mal, estamos muito mal. E seguramente ainda viremos a estar pior.
Várias entusiasmadas pessoas hoje me perguntaram se tinha visto esta entrevista. Não tinha. Vi agora, aqui.
Normalmente, por cortesia e respeito pela opinião alheia, evito comentar posts com os quais discordo. Olhando "en passant" para o título do post e como nada mais para além daquele foi escrito, tomarei o presente post como um "pôr à disposição" dos frequentadores deste blog a dita entrevista e um aguardar de reacções. Por isso, desejo que a minha opinião não seja encarada como descortês.
Lamento, então, mas não creio que ficássemos melhor com personagens como esta aos "comandos".
Fazer a análise de tudo pela negativa é extremamente fácil; descredibilizar a política (mas fazendo-a, subrepticiamente) e os políticos é fácil, cómodo e popular. E perigoso. (Mas que pouco compreensível papel é o de Medina Carreira?... Pretenderá dizer: "já fui político mas agora não sou - pelo menos «destes» - e até os desprezo"?).
Saturados com o corrente e previsivelmente pior estado do país estamos ou podemos estar quase todos (I know I am). Mas este tipo de discurso dos «iluminados» faz-me imediatamente pensar que, com eles, ainda podíamos ou podemos vir a estar pior. Temo pela saúde da democracia mais por este senhor (e outros com discursos similares) do que pela evolução da economia. Agravado pelo facto de que este tipo de discurso é amplificado pela degradação da economia, catapultando e promovendo opiniões (e, claro está, os «opinion makers») como estas. (Opiniões, sim. Porque, convenhamos, tanta iluminação e - confessadamente - tão pouca solução...)

*
(para além da não muito discreta, ousarei, deselegante, forma como se auto-convidou para um programa "realmente interessante" na SIC-Notícias...)
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Uma vantagem nisto tudo, porém: os iluminados fazem-nos parar um pouco para pensar se serão eles realmente os benfeitores desinteressados; e com isso recordamo-nos de coisas boas (a tal vantagem), de tanta gente bem mais interessante, ciente dos males do mundo mas com espírito bem mais alegre, interventivo, social, desinteressado e eficaz que deveria servir de exemplo para tantos. De tantos exemplos possíveis, na política, nas artes, nas ciências, ... nem é preciso ir mais longe do que este blog para encontrar um, lembrando o recente e curto post alusivo a Paul Newman.

Mas enfim, estas coisas valem o que valem. Já lhe (Medina Carreira) conhecemos o estilo e estas putativas acutilância e desinteresse, tudo pelo bem da nação. Não espanta, por isso, e dêem-se-lhes o valor que realmente têm (por ora), já que se ouvem recorrentemente, ora no metro, ora no autocarro, ora na tv...

Anonymous said...

Publiquei o comentário anterior sem ter reparado que, entretanto, dois comentários tinham sido inseridos. Relativamente ao primeiro, ora aí está mais uma boa questão. Quanto ao segundo (de JL), creio que a minha resposta à questão que coloca já está dada nesse comentário.

João Lisboa said...

"descredibilizar a política (mas fazendo-a, subrepticiamente)"

Subrepticiamente?!!!... Na TV e em horário nobre? Alto e bom som? Chamando os bois pelos nomes?

"Temo pela saúde da democracia mais por este senhor (e outros com discursos similares) do que pela evolução da economia"

Essa é que é a grande questão. Que nem nunca ninguém se atreve a colocar-lhe abertamente nem ele toma a iniciativa de dar a resposta: tudo o que ele propõe é possível EM DEMOCRACIA? O problema é o muito provável "não". Pergunta seguinte: mas é absolutamente necessário? Problema ainda maior: o altamente provável "sim". Como se sai daqui? Não sei. Mas suspeito que não vai ser bonito de se ver.

Anonymous said...

Há muitos mais economistas, tão ou mais reputados (se bem, que hoje em dia, não sei bem o que isso signifique), que fazem exactamente o mesmo diagnóstico, sem aquela pose "era preciso pôr as coisas na ordem, como eu estou a explicar, e o resto é conversa". Este é sem dúvida,um discurso mais elaborado que o ouvido no café (ou do típico taxista), mas o efeito acaba por ser o mesmo: propangandear esta espécie de angústia nacional com uma dramatização populista básica, sob a capa da tal "credibilidade".

Acaba por ser o complemento ideal para as tvs que abrem os telejornais todos os dias com a dose de histeria sobre qualquer assunto, em que qq notícia (relevante ou não) é sempre dada pela perspectiva mais chocante.

Nós sabemos que vivemos mal, que o país está num buraco (ainda não o do LHC), será preciso o economista respeitável vir dar a palestra mensal sobre os males da democracia, "das eleições de 4 em 4 anos"? Há espectáculos já por si dispensáveis em tempos de crise evidente, mas este repete-se vezes demais para ser levado a sério.

João Lisboa said...

"propangandear esta espécie de angústia nacional com uma dramatização populista básica, sob a capa da tal "credibilidade"."

Resta agora saber se, no desgraçado estado actual das coisas, a "dramatização populista básica" (nem acredito que estou a dizer isto...) não é um elemento indispensável para que o conhecimento do que, de facto, se passa saia dos círculos de "iniciados" para um âmbito um pouco mais alargado. E para que o grande "badaboom" - seja ele o que for - ocorra o mais depressa possível.

"Há espectáculos já por si dispensáveis em tempos de crise evidente, mas este repete-se vezes demais para ser levado a sério"

Por acso, eu diria exactamente ao contrário: este repete-se vezes demais para NÃO ser levado a sério.

"Acaba por ser o complemento ideal para as tvs que abrem os telejornais todos os dias com a dose de histeria sobre qualquer assunto"

Não é bem, bem, o caso do jornal das 9 da SIC-N... e não me recordo de ver entrevistas com o MC a abrir telejornais "generalistas". Lá está: se calhar, era o que fazia falta.

Porque - e esta é que é a "bottomline" - o que importa discutir é só isto: o que ele afirma está certo ou errado (repito-me: do que eu conheço bem, está certíssimo)? Tudo o resto é acessório.

Anonymous said...

""descredibilizar a política (mas fazendo-a, subrepticiamente)"

Subrepticiamente?!!!... Na TV e em horário nobre? Alto e bom som? Chamando os bois pelos nomes?"

O grande problema é que, sob a capa de especialistas neutros, que pairam acima dos problemas, "comentadores" como MC tentam, quando convém, dar um ar de imparcialidade. Só falta dizer-lhes (quando não o dizem) que "não sou de esquerda nem de direita". E é esta mensagem que fica para muitos (obviamente não é o caso de JL nem de muitos outros, mas para muitas pessoas menos informadas - e não é só na SIC-N que MC fala... - este é um Especialista ponto). Cá não há o hábito de fazer declarações de interesses, para que, assim sim, com propriedade, se chamem os bois pelos nomes.

Quanto à questão "não acessória", MC até pode estar certo nalguns pontos; mas quando se sabe o "background", fica a dúvida se as questões seriam colocadas da forma que as coloca se o contexto político fose outro. Ginásticas há-as de várias modalidades.

João Lisboa said...

"Cá não há o hábito de fazer declarações de interesses, para que, assim sim, com propriedade, se chamem os bois pelos nomes.

(...)

mas quando se sabe o "background", fica a dúvida se as questões seriam colocadas da forma que as coloca se o contexto político fose outro"

Não percebi porque desconheço: quais os interesses e qual o background que distorcem politicamente a análise?

Anonymous said...

Referia-me ao quadrante político de MC.
Não é preciso estar-se filiado num partido A ou B para se estar de acordo com A ou B ou com o que esses partidos representam. Também os extremistas (não será o caso) estão normalmente em desacordo com A e B (e C e...), o que não os torna necessariamente muito recomendáveis.

E, sim, creio então que estamos de acordo, há sempre um perigo real para a democracia perante situações de crise. Mas a pergunta que agora eu coloco é: sabendo-se isso, deve-se promover um discurso do tipo "isto está tudo mal, com estes políticos não vamos lá"? Com que fim? Não é arriscado quando se sabe que a alternativa não é melhor?
Pessoalmente, desconfio sempre das nobres intenções destes discursos. As afirmações de que é preciso pôr a trabalhar os jovens, de que nem todos precisam de formação blá blá já as conhecemos e, face às presentes dificuldades e aos óbvios requerimentos de qualificação nos empregos, não têm fundamento e são um pouco sinistras. É bem de quem está muito bem na vida.

Termino com mais uma achega à questão de MC ter razão ou não no que diz: George W. Bush tinha toda a razão em não gostar de Saddam Hussein. Mas daí a eu estar de acordo com G.W.Bush vai um passito de gigante...

Mas não pretendo aborrecê-lo mais com um dos meus pequenos "ódios de estimação" - e aqui fica a minha declaração de interesses :)

Anonymous said...

Precisão, porque pode ser entendido de outra forma:

"Não é arriscado quando se sabe que a alternativa não é melhor?" - Refiro-me a alternativa à democracia.
(Mas que - a bem da verdade mas cada vez mais com um aperto no estômago - tenda a ter que estender ao campo partidário.)