BOSSA DE NOVO
Vinicius Cantuária - Cymbals
Dificilmente, Vinícius Cantuária se deixa situar como arquétipo do “músico brasileiro”: se o baterista, guitarrista, cantor, compositor de Manaus guarda no currículo colaborações com Caetano Veloso, Chico Buarque de Hollanda ou Gilberto Gil, a verdade é que, quando interrogado acerca dos modelos em torno dos quais construiu a sua personalidade, deixa escapar que cresceu a ouvir os Beatles e, mais tarde, lhes acrescentou as figuras tutelares de Bill Evans, Chet Baker e Miles Davis. Nada disso, porém, seria suficiente para adivinhar que, desde que, em 1994, emigrou para Nova Iorque, se iria transformar em nome de referência do “inner circle” da cena musical a que, desde há uns bons anos, se convencionou designar como “downtown”. Isto é, o polígono de imensamente variável geometria, cujos vértices se situam em John Zorn, Laurie Anderson, Bill Frisell, Marc Ribot, Arto Lindsay, David Byrne e que, episodicamente, absorve outros como Sakamoto ou Brian Eno. Segundo conta, integrou-se no meio do modo mais informal possível e conseguiu rapidamente ultrapassar o estatuto de “brasileiro convidado” pelo mero facto de a sua origem poder acrescentar algum tempero mais ou menos “exótico”. É por isso que, embora datando do ano passado, o seu mais recente álbum, Cymbals, surpreende: objecto de classicismo bossanovista quase puro, poderia ter sido concebido propositadamente para se integrar com merecidíssima honra nas comemorações actuais do género musical que João Gilberto, Tom Jobim e o outro Vinícius ofereceram ao mundo. Apenas com pontuais alusões ao idioma do tango, revisões de clássicos, e as participações de Brad Meldhau e Naná Vasconcelos, dir-se-ia uma espécie de virtuoso exercício “back to basics”.
(2008)
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