HUMANO = DISFUNCIONAL
Aimee Mann - @#%&*! Smilers
Pode sorrir-se quando se escuta o desabafo de uma recém-balzaquiana que confessa “Thirty-one today, what a thing to say, drinking Guinness in the afternoon, taking shelter in the black cocoon, I thought my life would be different somehow, I thought my life would be better by now, but it's not and I don't know where to turn”? Há, de certo, ironia ácida numa frase como “you love me like a dollar bill, you roll me up and trade me in” mas poderá isso ser motivo de riso? Pode, mas, quase exclusivamente, se uma e outra forem matéria de um episódio de Seinfeld.
Fora daí, e, em particular, nas canções de Aimee Mann, serão sempre a voz de personagens – não confundir com a autora – para quem o mundo não é o mais aprazível dos lugares e que se dão mal com quem insiste em sugerir-lhes um sorriso. Ou que, nos piores casos, se transformam no tipo de gente (“fucking smilers”) que supõe que, sorrindo, tudo se transforma. Do primeiro ao último álbum de Mann, têm desfilado, uma após a outra, destroços envolvidos em “cotton candy” musical, o género de contraste que muito mais acentua as marcas da catástrofe. @#%&*! Smilers acrescenta mais uma dúzia de instantâneos à galeria do humano enquanto criatura fundamentalmente disfuncional e é, pelo menos, tão bom como os anteriores.
(2008)
6 comments:
«Do primeiro ao último álbum de Mann, têm desfilado, uma após a outra(?!), destroços envolvidos em “cotton candy” musical»
Não será: um após o outro? No jornal tb vinha com gralha...
Não. A falha é minha. Uma após a outra (canção). Já faz sentido. Sorry.
Nem uma nem outra: "as personagens".
Eu sou burra.
Quem é disfuncional:
A criatura humana,o "sorriso" transformador ou os personagens instantâneos? Muitas vezes me perco nos labirintos das tuas palavras.
A "criatura humana" é disfuncional.
As personagens não são "instantâneas". "Mais uma dúzia de instantâneos" significa "mais uma dúzia de fotos instantâneas", de "snapshots".
No contexto, os "fucking smilers" só são "transformadores" se for para transformar a fúria em ira.
Não seria o contrário? A ira é contida, já a fúria é devastadora. Tudo o que é devastado mesmo reconstruído é novo.
De qualquer forma acho a tua escrita difícil.
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