PEÇAS SOLTAS
Tricky - Knowle West Boy
Pelos idos de 1999, numa daquelas confissões públicas dos seus afectos musicais que, periodicamente, costuma fazer, Tom Waits revelou ao mundo: “O que eu gosto mais na música do Tricky é ele desfazer as coisas e depois montá-las outra vez do modo errado. É um bocado como se tivesse desarticulado tudo e, pelo caminho, tivesse perdido algumas das peças principais. Mas acaba por funcionar. Embora coxeie um bocadinho. Tem uma qualidade própria. Gosto muito das texturas dele, parece ter um interesse muito especial pelos sons subliminares e pelo que fica desfocado. E pelo que está para além disso. E mais além ainda”. É o género de caução que ajuda bastante a puxar o lustro a qualquer currículo.
Mesmo que se trate do de Adrian Thaws, o Tricky Kid que, primeiro integrado na tripulação dos Massive Attack, e, a seguir, a solo com Maxinquaye (1996), Nearly God e Pre-Millenium Tension (1996) – essencialmente estes – converteu o chamado trip-hop numa nebulosa astronomicamente inclassificável e garantiu lugar cativo na história da música dos anos 90. Se o que veio a seguir não foi tão entusiasmante (a paragem desde Vulnerable, de 2003, não terá sido só, só, uma questão de desenredar novelos contratuais...), o novo Knowle West Boy contribui seriamente para realinhar os corpos celestes na configuração desejável. Misto de dura revisitação autobiográfica das origens no subúrbio “white trash” de Knowle ocidental, em Bristol (“In my mother’s belly and I’m starting to kick, nine months in the womb and I’m making her sick”), e comentário social, começa de modo apropriadamente waitsiano com “Puppy Toy” e, não temendo arriscar uma versão de “Slow”, de Kylie Minogue, ensaia ainda a divisão esquizóide entre punk-ragga, psych-pop e country gótica. O trip-hop morreu e ainda bem que foi Tricky quem o liquidou.
(2008)
24 July 2008
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1 comment:
Estes têm um bom disco.
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