10 February 2008

PETIÇÃO ONLINE CONTRA O FIM DO ENSINO ESPECIALIZADO DA MÚSICA  

(manifestação, 2ª feira 11.02.08, às 10.00 horas, na Escola de Música do Conservatório Nacional/Lisboa)

 
John Blacking 
 
"Se a minha hipótese acerca das origens biológicas e sociais da música estiver correcta, ou mesmo apenas parcialmente correcta, poderá afectar as considerações que fazemos acerca da musicalidade e dos modelos de educação musical. Acima de tudo, poderá gerar novas ideias acerca do papel da música na educação e, de um modo geral, o seu papel nas sociedades que disporão cada vez mais de tempos livres à medida que os processos de automatização progridem. Interroguei-me muitas vezes por que motivo, na minha escola, a maioria das bolsas de estudo eram ganhas pelos elementos que faziam parte do côro, eles que representavam apenas um terço da população da escola e faltavam a mais de um terço das aulas devido a ensaios e concertos. Depois, apercebi-me de como a música se pode tornar parte intrínseca do desenvolvimento da mente, do corpo e de relações sociais harmoniosas. Estas ideias são, evidentemente, mais antigas do que os escritos sobre a música de Boécio e Platão.(...) O que é essencialmente importante na música não pode ser aprendido como outras aptidões culturais: reside no interior do próprio corpo, à espera de ser actualizado e desenvolvido, como os princípios básicos da formação linguística. (...) As regras do comportamento musical não são convenções culturais arbitrárias e as técnicas musicais não são idênticas aos desenvolvimentos tecnológicos. O comportamento musical reflecte vários graus de consciência das forças sociais e as estruturas e funções da música relacionam-se com impulsos humanos fundamentais e com a necessidade biológica de manter um equilíbrio entre eles. (...) Assim, as forças culturais e sociais exprimem-se através do som humanamente organizado, porque a principal função da música na cultura e na sociedade é promover uma humanidade saudavelmente organizada através do desenvolvimento da consciência humana. (...) Num mundo como o nosso, neste mundo de crueldade e exploração em que o medíocre e o espalhafatoso proliferam incessantemente na perseguição do lucro, é necessário compreender a razão por que um madrigal de Gesualdo ou uma Paixão de Bach, uma melodia de sitar da Índia ou uma canção africana, o Wozzeck de Berg ou o War Requiem de Britten, um gamelan do Bali ou uma ópera cantonesa, uma sinfonia de Mozart, Beethoven ou Mahler podem ser profundamente necessários para a sobrevivência humana independentemente de qualquer mérito que possam ter como exemplos de criatividade e progresso técnico" (John Blacking in How Musical Is Man?, ed. Faber & Faber, 1976)
 
Murray Schafer
"Muitos responsáveis escolares não compreendem verdadeiramente a música. Não é fácil mostrar a estas pessoas que grandes mentes do passado atribuiram à música um papel educativo do mais elevado significado a menos que elas tenham lido Platão, Aristóteles, Montaigne, Locke, Leibnitz, Rousseau, Goethe, Shaw e outros, o que não é nada provável" (Murray Schafer in Creative Music Education, ed. Schirmer Books, 1976) (2008)

5 comments:

Anonymous said...

Assinado. Isto caminha para a tecnocracia total.

João Lisboa said...

Danke. Faz circular, sff.

gorgulho said...

Tirando alguns pormenores anatómicos, quais são as únicas diferenças entre os Neandertais e os Cro-Magnons(nós)de que há provas? A música, a pintura e a escultura, pois claro.

Anonymous said...

também já dei o meu contributo.

bookworm said...

já está.