09 February 2008

NEVE
(David Berman)



Caminhava pelo campo com Seth, o meu irmão mais novo.

Apontei para um sítio onde os putos tinham feito anjos de neve.
Não sei bem porquê, disse-lhe que um bando de anjos
tinha sido alvejado e se tinha dissolvido quando tocara no solo.

Ele perguntou quem os tinha alvejado e eu disse-lhe que tinha sido um agricultor.

Estávamos então sobre a superfície do lago.
O gelo era como uma fotografia da água.

Porquê, perguntou ele. Por que motivo disparou ele.

Eu não sabia onde isto iria parar.

Estavam na propriedade dele, disse eu.

Quando neva, lá fora é como se fosse uma sala.

Hoje troquei olás com o meu vizinho.
As nossas vozes deram-se bem com a nova acústica.
Uma sala com as paredes a cair e feitas em estilhaços.

Voltámos ao trabalho, lado a lado, em silêncio.

Mas porque estavam na propriedade dele, perguntou o meu irmão.

(in Actual Air, ed. Open City Books, 1999; trad. J. Lisboa)

(2008)

2 comments:

Anonymous said...

Como já o tinha desafiado a postar alguns textos mais antigos (comentário ao post PARCEIRAS PERFEITAS que, presumo, não leu ou… não ligou puto, sensato de qualquer das maneiras) volto à carga.
Recupere o texto que escreveu para a revista “os meus livros” quando Tereza Coelho o convidou a escrever sobre música e literatura. Infelizmente, a revista acabou logo aí.
Fica o texto sobre…David Berman.
A blogosfera, melhor, aqueles que não leram o texto na edição original, vão agradecer de certeza. Em 2004 já havia Word…

manuel carvalho

João Lisboa said...

Li, li. Mas isto não pode ser tudo de uma vez...