14 January 2008

TOM WAITS: AUTOBIOGRAFIA EM PEQUENAS PRESTAÇÕES, DITOS DE ESPÍRITO E SABEDORIA (XXIX)



"O melhor comentário acerca de uma música faz-se habitualmente através de outra música. Os autores de canções não vão à escola para aprender a escrevê-las. Andam por aí e escutam os discos dos outros. Encostamos o ouvido à coluna e tentamos descobrir como é que eles fizeram aquilo. É como estudar pegadas ou pistas em mapas antigos. Normalmente o que se ouve é a tentativa imprecisa de emular alguém e, depois, tentamos emular isso mesmo. Podia-lhe dizer que, neste álbum, estou a tentar fazer a minha melhor imitação de Jimmy Durante ou de Eric Burdon. E você ia pensar 'A sério? Não lhes reconheci o perfil'. E teria toda a razão, porque o meu perfil não tem nada a ver com o deles. Mas, nesse processo, outras coisas se produzem. Porque o que me intriga não é a emulação mas a possibilidade da surpresa.

(...)

"Blood Money é sangue e vísceras, é carnal, terreno, um encontro entre Tin Pan Alley e a República de Weimar.

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"Alice é basicamente acerca de um hipotético romance entre Lewis Carroll e Alice Liddell por muito doentia que pareça a obsessão de um professor de Oxford de cinquenta anos por uma miudinha. Todas as canções nascem a partir daí, dizem todas o mesmo de formas diferentes. É uma história mais feminina, se calhar, mais metafísica, mais aquática. É como tomar a pílula. Alice é um sonho e Blood Money é um pesadelo.

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"Não fazemos a menor ideia do que fazer com a tecnologia. Por isso, fazemos coisas estúpidas. Percebemos a sofisticação dela mas usamo-la como se fosse um martelo.

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"Posso perfeitamente dizer que a espécie humana nada tem de amável mas estou sempre à espera que me surpreendam. Sobreponho umas coisas a outras com sons e imagens. Gosto de ligar três rádios ao mesmo tempo. Provavelmente faço o mesmo com as pessoas quando olho para elas. Vejo-lhes as asas de anjo e também o cabelo a arder.

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"Por vezes, sinto vergonha de fazer parte do género humano que se comporta como uma horda de bárbaros. Mas, para dizer a verdade, a actualidade não penetra no meu mundo musical ainda que me agrade gritar cheio de raiva para o microfone.

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"Não me perguntem qual é o meu método de escrita. São segredos da profissão. Como a fórmula da Coca-Cola.

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2002

(2008)

2 comments:

João Lisboa said...

Blogspam?...

menina alice said...

Ao domicílio. :DDDD