28 January 2008

OLDIES BUT NOT SO GOLDIES
(I - uma série exumada a partir daqui)



At The Drive-In - Relationship Of Command




Godspeed You Black Emperor! - Levez Vos Skinny Fists Comme Antennas To Heaven




Sigur Rós - Agætis Byrjun

Três ultra-exemplificativas variantes de um certo reaccionarismo estético contemporâneo: o punk-rock-garage, o "wall of sound" de guitarras à maneira de Glenn Branca e Rhys Chatham e a revisitação 4AD fora de prazo. Que a avassaladora amnésia (em versão menos benevolente: apenas pura ignorância ou, ainda pior, complacência) actual se tem empenhado em transformar em "revelações" ou "next big things" não se sabe muito bem de quê.

Os At The Drive-In são tão só os Stooges e MC5 exumados e convertidos em guerrilheiros salvadores da alma perdida do rock "íntegro". E isto quer só dizer os mesmos três acordes de sempre (com aparição obrigatória do fantasma de Iggy Pop — mas, esse, não vendeu já a alma ao "showbiz"?!) em denúncia decibelicamente portentosa da "opressão" que dá sempre muito jeito estar ali mesmo à mão mas que já viu o suficiente para não se impressionar demasiado com "guerrilheiros" destes que, em última análise, se limitam a ser apenas um bom espectáculo-para-entreter-os-putos-mais-ou-menos-rebeldes.


GYBE!

Os Godspeed You Black Emperor! investem na dimensão esotérica-alternativa (na versão A Silver Mt. Zion são algo mais interessantes...) mas, se excluirmos os bruitismos e concretismos "schaefferianos" de "musique vérité" que, francamente, já deram há muito quase tudo o que tinham a dar (pelo menos, quando encarados desta forma tão literal), sobram só os épicos crescendos intermináveis de guitarras que, há duas décadas, Glenn Branca e Rhys Chatham sugaram com proveito até ao tutano e, em versão, pop/rock, os Sonic Youth desenvolveram.

E cheguemos aos únicos reaccionários verdadeiramente interessantes do lote: os islandeses Sigur Rós, colectivo de praticantes daquela metafísica sonora que, um dia, no início da década de 80, emergiu em Londres num edifício de Alma Road e assumiu o compromisso de se extinguir dez anos depois. Pois, nem a 4AD cumpriu o prometido nem os seus apóstolos, um pouco por todo o mundo, o fizeram por ela. Como estes islandeses que habitam um universo imaginário de secções de cordas flutuantes, dicionários inventados, litanias encantantórias, vozes angélicas, paráfrases mortalcoilianas, joy divisionismos avulsos e arrebatamentos de dissonância orquestral que se encontram no interior de um álbum esteticamente velho mas (é impossível não o admitir) assombrosamente bonito. (2000)

1 comment:

Anonymous said...

Se os Sigur Rós, por esta altura, tinham interesse, foram-no perdendo até ao ponto de já não haver paciência, nem para eles, nem para os crescendos de guitarra pretensioamente metafísicos, avulsos e mais-que-vistos. Sobre os outros: reaccionários até à medula, sem dúvida. A não ser que tenham mudado, porque, desde então, nunca mais os ouvi...
P.S. Não tem nada a ver, mas não sei como perguntar isto de outro modo: Só se passou comigo ou o último disco dos Richmond Fontaine (de 2007) é mesmo uma decepção depois do imenso «the fitzgerald»? Será que elevei demasiado a fasquia ou não me tenha apercebido das qualidades que o álbum possa ter?