25 September 2007

O BOM, O BELO E O BIZARRO



Danny Cohen - Shades of Dorian Gray

Danny Cohen vive no Paraíso. Mais exactamente, em Paradise, no norte da Califórnia, na região de Butte County, no sopé das montanhas da Sierra Nevada. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, não se dedica propriamente a nenhum género de música vagamente bucólica e campestre. Gaba-se, aliás, de, no início dos anos 60, com as suas bandas de liceu (as magnificamente obscuras Polka & The Dots, Organized Confusion e, sobretudo, Charleston Grotto), ter sido o inventor do punk através de canções ignotas e nunca gravadas como “Kill The Teacher”. Depois, pura e simplesmente, desapareceu e não há biografia nenhuma que, ao menos, explique se, durante quarenta anos, vagueou pelo deserto e foi tentado por Satanás (com esforço, descobre-se apenas que, em data indeterminada, terá feito parte da seita de Captain Beefheart), até que a Tzadik, de John Zorn (na colecção “Lunatic Fringe”), em 1998 e 1999 – com Self-Indulgent Music e Museum Of Dannys –, o ressuscitou para o mundo dos mais ou menos vivos. Devia estar escrito algures que haveria de aportar à Anti, abrigo de Tom Waits, Neko Case, Jolie Holland e outros casos gloriosamente peculiares da música americana que, em 2004 e 2005, lhe editou Dannyland e We’re All Gunna Die e, agora, reincide com este fabulosamente bizarro Shades Of Dorian Gray.



Segundo o próprio, o método assenta na divisão de personalidades: o autor das canções é intuitivo, o intérprete é visceral e o produtor (com direito a heterónimo e tudo: Sir Errol Sprague) analítico. Daqui resulta o que, logo a abrir (“Prayer In The Black And White”), se apresenta como uma charanga enxovalhada de sopros tropegamente em desalinho, prossegue com uma litania para bramido de elefante beefheartiano, órgão processional e percussão metronómica (“Avian Blues”), tropeça na estética-Waits de glorificação do ferro-velho sonoro cerzido sobre retalhos de jazz puído e pseudo-theremin (“For George ), avança para uma assombração “sci-fi” de comboio fantasma na variante Herrmann-em-tenda-de-feira (“Vertigo”) e, eventualmente, repousa numa belíssima balada dylaniana com serpentinas de violino (“Palm Of My Hand”) ou no que o próprio Danny descreve como “Neil Young meets ‘Rosemary’s Baby’” (On The Fall”) e “a nod to Procol Harum about the nobility of death” (“Death Waltz”). Os “Waits men” Ralph Carney e (o irmão) Greg Cohen dão uma importante mãozinha e, à terceira ou quarta audição, nacos de texto como “trembling like a leaf, Zoloft for my grief” e “snow in early fall, debt collectors call, lawyers contradictions, doctors write prescriptions” começam a fazer todo o sentido. (2007)

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