27 August 2007

PEQUENOS MONSTROS



Richard Thompson - Front Parlour Ballads

No excelente site de Richard Thompson, existe uma secção — "Viewpoint" — onde se reúne um conjunto de declarações e citações suas. E, aí, se podem descobrir duas capazes de iluminar bastante não apenas o conjunto da sua obra como, em particular, este novo Front Parlour Ballads: 1) "Na situação de 'songwriter', estamos sempre presentes no interior da canção. Se nos aproximarmos daquilo que os seres humanos são, estamos a escrever sobre experiências comuns. Fazemos todos as mesmas coisas, por isso, se compreendermos alguém, compreendemo-nos também a nós mesmos"; 2) "É de desejar que o público não se sinta confortável". Ficamos, então, autorizados a pensar que, em qualquer uma das diversas personagens que povoam estas treze novas canções — interpretadas em quase solo absoluto e formato austeramente acústico — existe pelo menos um átomo da experiência, da memória ou dos amores e ódios de Thompson (sem que isso obrigue a classificá-las de autobiográficas) e, após as escutarmos, não nos resta senão confirmar uma vez mais que elas nos deixam tudo menos confortáveis.



A espécie humana não é coisa bonita de se ver e o espelho que Richard Thompson repetidamente lhe coloca à frente devolve uma imagem ainda menos lisongeadora: do "socialite" de papelão ("A life of volcanic activity left him nothing to spout but hot air"), ao "lumpen" de subúrbio ("We were armed right to the teeth, we fired a friendly volley and we only maimed a few") ou ao sórdido "pato bravo" ("She thought the leopard's spots were paint, she thought she'd turn you to a saint, kept hoping, though the hope grew faint, that you were better bred"), desfila uma colecção de pequenos monstros e aleijões ontológicos ("Sometimes I long for the solitary life, parents long gone, no kids, no wife, sister somewhere in Australia, never did kep in touch, sex no more than a how-do-ye-do with a copy of Tit-Bits in the loo") em instantâneos de sombrias (e magníficas) melodias e arranjos severos. Outro grande e amargo álbum de Richard Thompson. (2005)

2 comments:

Anonymous said...

O Thompson é o antídoto perfeito para a silly season.

João Lisboa said...

Era um bocado essa a ideia...