11 July 2007

TOM WAITS: AUTOBIOGRAFIA EM PEQUENAS PRESTAÇÕES, DITOS DE ESPÍRITO E SABEDORIA (II)



"Fiz umas coisas de rock. Andei com um grupo chamado The Systems. Tocava guitarra-ritmo e cantava. Tocávamos coisas do Link Wray. Acabei por sair da banda. O baterista tinha lábio leporino e o guitarrista tocava com uma guitarra feita em casa. Éramos só nós os três. Num certo sentido, acabámos por ser pioneiros.

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"Quando era puto, era bastante normal. Costumava ir ao estádio dos Dodgers. Era um grande fã dos Dodgers. Fiz tudo o que era habitual como andar pelos parques de estacionamento, vandalizar automóveis, gamar cenas de lojas de conveniência, o costume.

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"Aproximei-me pela primeira vez de um palco num pequeno clube de San Diego. Era um clube de folk onde ouvi bluegrass até ao vómito. Era o porteiro e ouvi todo o tipo de grupos. Aceitei o emprego porque acreditava que acabaria por tocar ali. Era uma questão de ascensão social. Era preciso engolir aquilo tudo até ter a certeza que, quando chegasse a minha vez, não iria fazer figura de parvo.

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"Nighthawks At The Diner foi o resultado de passar oito meses na estrada, é uma sucessão de diários de viagem. Quando se anda pela estrada a tocar em clubes, é difícil não frequentar bares durante a tarde. Há muito tempo para matar antes dos concertos. Depois, anda-se pelos clubes a noite toda, fica-se a pé até de madrugada e vai-se para os cafés. Deixa de ser uma coisa que se faz para se transformar naquilo que somos.

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"Durante muito tempo, tive de fazer as primeiras partes dos concertos e só a pouco e pouco comecei a ser o artista principal. É outro mundo. Costumava fazer a abertura dos Mothers Of Invention ou de Cheech And Chong. Atiravam-me de tudo. Havia noites em que chegava para fazer uma salada de frutas.

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"Sei lá quando comecei a escrever... Deve ter sido muito cedo, quando comecei a preencher impressos. Primeiro o apelido, depois o nome próprio, sexo... 'ocasionalmente', coisas desse género. Depois foram cartas, requisições, paredes de casa de banho.

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"Sou o tipo de gajo capaz de te vender o olho do cu de uma ratazana por uma aliança de casamento.

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"Tenho uma águia tatuada no peito. Só que, num corpo destes, parece-se mais com um tordo.

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"Reconhecem-me mais frequentemente quando estou num bar a conversar com uma miúda bonita. Aparece um fedelho qualquer e baba-se em cima do meu ombro.

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"Há um álbum fascinante que saiu em 1957 na Hannover Records, Kerouac/Allen. É Jack Kerouac a contar histórias com o Steve Allen, em fundo, ao piano. Esse álbum sintetiza praticamente tudo. Foi daí que retirei a ideia de fazer também algumas peças de 'spoken word'.

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"Para dizer a verdade, não leio muito, nem sequer apaixonadamente. Gosto de John D. McDonald, Damon Runyon, Carson McCullers, Charles Bukowski, Hubert Selby Jr., John Rechy, o gang da Grove Press...E também Gregory Corso, Ed Sanders, Allen Ginsberg, Jack Kerouac e, às vezes, Larry McMurtry".

1976

(2007)

1 comment:

Ana Cristina Leonardo said...

Ah! Ah! volto depois de jantar para a sobremesa.