VELUDO E NICOTINA
Eleni Mandell - Miracle Of Five
Quando, em Novembro do ano passado, propus a Laura Veirs que indicasse os “songwriters” actuais de que se sente mais próxima, o primeiro nome na ponta da língua foi o de Eleni Mandell. Seis anos antes, acontecera exactamente o mesmo, em conversa com Chuck E. Weiss (a lendária personagem desaparecida de “I Wish I Was In New Orleans”, de Tom Waits, e de “Chuck E’s In Love”, de Rickie Lee Jones, então em período de regresso ao mundo dos vivos com Extremely Cool), tinha Eleni ainda gravado apenas Wishbone (de 1999, produzido por Jon Brion) e Thrill (2000). Pouco depois, tropecei em New Coat Of Paint, um bastante pouco memorável álbum de homenagem a Tom Waits, onde não se salvava muito mais do que a sua versão de “Muriel” e a de Neko Case para “Christmas Card From A Hooker In Minneapolis”.
As peças começavam a juntar-se. Mas, só agora, ao sexto álbum de Eleni Mandell, se pode, finalmente, enxergar a configuração total da genealogia: produzido por Andy Kaulkin (responsável pela Anti que acolhe também Jolie Holland, Danny Cohen, Nick Cave, Neko Case e Tom Waits), Miracle Of Five convocou uma associação instantânea de todos esses nomes acrescentados dos de Ambrosia Parsley/Shivaree, PJ Harvey, Fiona Apple ou Cat Power.
Sim, existe aqui, sem dúvida, uma inegável atmosfera de família. Que ela própria, Eleni, não desmente: ajoelha perante Weiss que a apresentou a Waits e, aí mesmo, estabeleceram uma sociedade de apreciação mútua, jura que a sua mais preciosa relíquia é um poema que Charles Bukowski lhe autografou, coloca em plano de igualdade enquanto factores decisivos na sua formação o dicionário de rimas que Mrs Block (a professora do 6º ano) lhe ofereceu por ocasião do Bar Mitzvah e uma adolescência passada a ouvir a banda punk de Los Angeles, X, e confessa que a sua veia de “songwriting” entronca na linhagem dos Gershwins, Porter e Rogers & Hammerstein tal como Ella Fitzgerald, Nina Simone ou Billie Holiday os cantaram. Ah, e não dispensa o golfe e a máquina de costura.
Suponho que, através desta “declaração de interesses”, começarão a ficar com uma ideia do que Miracle of Five (capa inspirada em Saul Bass, designer gráfico dos genéricos de The Man With The Golden Arm, Psycho, Vertigo e inúmeros outros filmes clássicos) contém: um cocktail em registo “after-hours” de folk, jazz, blues e country (Andy Kaulkin chama-lhe “o elo perdido entre Hoagy Carmichael e Leonard Cohen”) para guitarras eléctrica e acústica (Nels Cline, dos Wilco), dobro, lap-steel, banjo, orgão, mellotron, sax, harpa, clarinete e a voz de veludo e nicotina de Eleni enroscada em melodias e palavras como “I am a marble the color of candy, I’ll make you money whenever you’re gambling, I am the dice you roll in the alley, I am the pennies that come in handy”. A garrafa de “bourbon” é um acessório de escuta obrigatório. (2007)
2 comments:
Olha, vou postar isto. Comecei hoje a ouvir e ainda não parei. Grata pela dica, oh mito nacional. ;)***
Boa!
Me too, nacional (frase para saudar Matt Berninger).
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