30 December 2017

29 December 2017

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XLI)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)
"(...) Bem sei que uma tradição de pensamento quase canónica nos assegura que o patriotismo é doce e bom, enquanto o nacionalismo é amargo e mau; e que o primeiro é benévolo e tolerante em relação às diferenças culturais e às minorias étnicas e religiosas, enquanto o segundo é agressivo em relação a tudo o que considera estrangeiro e, levado aos seus extremos, constitui uma regressão a um estado guerreiro e de existência tribal. Mas este discurso que pretende distinguir duas formas de pertença a uma comunidade, dizendo que elas são completamente diferentes, baseia-se em falácias ou em critérios tão plásticos que servem para tudo e para nada. (...) É verdade que ser patriota não significa reivindicar um direito adquirido pelo sangue (isto é, por via dos nosso progenitores) e pelo solo (isto é, por fusão com a entidade nacional onde se inscreve o lugar de nascimento). Mas significa termos orgulho nessa coisa que se chama cidadania e sentirmos amor pela 'pátria', essa entidade tão mítica como é, para o nacionalismo, o mito nacional-estatal. O nacionalismo é o patriotismo dos outros, mas os patriotas (de Esquerda e de Direita) salvam a sua boa consciência dizendo que o patriotismo e o nacionalismo não coincidem na mesma reivindicação identitária. É verdade que, nesse aspecto, exibem algumas diferenças, mas ambos, com mais ou menos essencialismos à mistura, não prescindem das identidades, das pesadas cristalizações históricas, culturais e geográficas" (AG) + leitura complementar
Às vezes, Portugal parece um país civilizado
Michael Head & The Red Elastic Band - "Josephine"

Radicais livres (LXI)



27 December 2017

2017 - Prémio "Quase o Dijsselbloem"


"As mulheres querem diamantes e eles querem uns grandes carros e whisky. O luxo acaba por ser muito conservador" (Joana Vasconcelos, Revista "E"/"Expresso" de 23.12.2017)
Danish String Quartet - "Wood Works"

26 December 2017

Alisa, a causa é justa mas o argumento é fraco: god is not woman, god is not man - god is not
MÚSICA 2017 - INTERNACIONAL (V)

(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 34)









* a ordem é razoavelmente arbitrária...

Sob este ângulo de escuta, 2017 não poderia ter sido musicalmente mais rico. O que, para além das provas apresentadas, é facilmente demonstrável se repararmos que, fora dos 10 obrigatoriamente seleccionados, a ditadura aritmética barrou injustissimamente a entrada a Aimee Mann (Mental Illness), Randy Newman (Dark Matter), Ryuichi Sakamoto (async), Michael Chapman (50), Bob Dylan (Triplicate), Sleaford Mods (English Tapas), The Weather Station (The Weather Station), Brian Eno (Reflection), Laura Marling (Semper Femina), Quercus (Nightfall) e mais uma boa mão cheia de outros. A radiografar um mundo galopantemente perigoso, saúdem-se os Gnod (Just Say No To The Psycho Right-Wing Capitalist Fascist Industrial Death Machine), Public Service Broadcasting (Every Valley), Lee Bains III & The Glory Fires (Youth Detention), Protomartyr (Relatives In Descent) e, sobretudo, o belíssimo The Navigator, de Hurray For The Riff Raff.

24 December 2017

Silent night, holy night
 
A inefável Lenita debruça-se sobre o tema do broche mas não lhe faria mal nenhum saber que, em alemão, a Lua é masculina e o Sol feminino (e, já agora, mais umas coisinhas)

23 December 2017

21 December 2017

Transpresidência

Jordi Savall/Hesperion XX - Llibre Vermell de Montserrat
Viva a Federação Ibérica com Andaluzia, Aragão, Astúrias, Baleares, Canárias, Cantábria, Castilla-La Mancha, Castilla y León, Catalunha, Comunidade Foral de Navarra, Comunidade de Madrid, Comunidade Valenciana, Extremadura, Galiza, Região de Murcia, La Rioja,  País Basco e Portugal!

"Els Segadors" - Jordi Savall - Montserrat Figueras - La Capella Reial

20 December 2017

Dan Michaelson - "Careless"

Tal como aconteceu com o Domingos Sequeira, lance-se já uma campanha pública de angariação de fundos destinados à aquisição de tão preciosos espécimes para a colecção de presépios da Cavaca!


UMA MIGALHA DE VERDADE


“Em A Sort Of Life, a autobiografia de Graham Greene, ele confessava que, escrever era absorver todo o caos à sua volta e destilá-lo sob uma forma em que conseguisse compreendê-lo. Há também outra citação literária muito boa do Raymond Carver acerca de, nos seus contos, existir uma migalha de verdade em torno da qual ele desenhava uma imagem bonita. Como escritor de canções, sinto-me algures, entre esses dois”, diz um tipo de Northampton, de 41 anos, mas que soa como um velho de 80, habituado a beber "bourbon" desde o berço. De acordo com as melhores fontes, anda por aí já há mais de uma década, primeiro com uns ilustremente desconhecidos Absentee (“Lou Reed mas com impressões digitais mais encardidas”, alguém sentenciou acerca deles), depois, numa outra encarnação enquanto Dan Michaelson and The Coastguards, pouco mais do que uma assinatura colectiva para Michaelson-autor individual. Vale a pena dar uma volta pelas esquinas da Internet e procurar travar conhecimento com o que estiver disponível de Saltwater (2009), Shakes (2010), Sudden Fiction (2011), mas, sobretudo, da trilogia Blindspot (2013)/Distance (2014)/Memory (2016). 



Nada disso, contudo, será suficiente para nos introduzir à experiência de First Light, “um lugar onde cada momento íntimo se materializa e nos descobrimos cercados pelos escombros das emoções”, segundo Dan Michaelson, a propósito de "Old Kisses" – “The last thing you said as we came to the end, don't dwell on old kisses, you'll only regret" –, o exacto tipo de canção que, só por distracção, não aterrou em Songs Of Love And Hate, de Cohen (os arranjos de Arnulf Lindner, para orquestra de câmara, em todo o álbum, poderiam bem ser de Paul Buckmaster). Mas que também Bill Callahan, Nick Cave ou um Matt Berninger, no ponto exacto de alcoolémia inspiradora, certamente, invejarão. A meio caminho de uns Tindersticks menos sentimentalmente filigranados e de uma versão não tão "cinemascope" dos Anywhen, acerca destas nove peças de elegantissimo desmazelo emocional, bastaria saber que Michaelson imagina ser "Careless" (“Love makes you give more than you think you can, the emptiest well floods 'til it's ready to spill”, sobre um quase requiem orquestral) “a primeira canção com alguma esperança que escrevi e que estabelece a atmosfera de todo o álbum”, para ficarmos preparados para o que nos espera. Nunca ficaremos.
Sem dúvida, um sinal de força 
mas também de boa educação

19 December 2017

Vá lá que alguém se lembra de escrever correctamente  
"PNR (antigo PRD)"
Sarah Silverman - Religion is Crazy

Radicais livres (LX)


ISRAEL, OS MEDIA E SEXO ORAL 


Há muitas luas, escrevendo sobre um "songwriter" estimável mas que a História só em rodapé registará, ousei compará-lo (favoravelmente) ao Bob Dylan de então. E, para eterna vergonha e infinda penitência futura, afirmava, convicto: “Não consegue entender-se muito bem por que motivo uma geração inteira, há anos, persiste em convencer-se e em tentar convencer as seguintes de que Bob Dylan, do ponto de vista criativo, não se encontra definitivamente empalhado”. É verdade que estava ainda muito próxima a idade das trevas-"born again" do futuro Nobel da Literatura que, agora, no 13º volume da "Bootleg Series", a Columbia pretende reabilitar. Fraca atenuante, porém, face ao arrasador desmentido que toda a obra imediatamente posterior de Dylan se encarregaria de fazer. Funcionaria, contudo, no longo prazo, como vacina (relativamente) eficaz contra juízos demasiado apressados. Mas, no que diz respeito ao Morrissey actual, é bem provável que nem um reforço da primeira dose evitará que lhe supliquemos que pare de emporcalhar a memória dos Smiths e, sejamos justos, de uma parcela importante da sua discografia a solo. 



O impulso incontrolável para o disparate é, nele, lendário. Se, em matéria de panfletarismo vegan, apontar as malas de Beyoncé como causa para o risco de extinção do rinoceronte poderá ser só tolice, acusar o povo chinês de ser “uma sub-espécie” em virtude dos seus hábitos alimentares ou relativizar o terrível massacre de 2011, na Noruega, perante “o que acontece, todos dias, nos McDonald's”, já é, francamente, mais grave. E verdadeiramente indesculpáveis são declarações tais que “Estou convencido que brancos e negros nunca se darão bem nem gostarão uns dos outros” ou “Quanto maior é a imigração, mais rapidamente a identidade britânica desaparece”. Tudo isto desajeitadamente contrabalançado por indignados protestos – “Abomino o racismo, a opressão e crueldade de todos os tipos” - e objectivamente contrariado pela muito especial relação de mútua paixão com a comunidade “latina” de Los Angeles, à qual dedicou a canção "Mexico" (“In Mexico I went for a walk to inhale the tranquil, cool, lover's air, but I could sense the hate, from the Lone Star state… it seems if you're rich and you're white, you'll be alright”) e a quem, durante a campanha presidencial norte-americana, incitava a não votar em Donald Trump.



Aparentemente, Morrissey é incapaz de viver sem isto: agora mesmo, num concerto de ante-estreia na BBC6 de Low In High School, pareceu-lhe apropriado insinuar, totalmente a despropósito, o apoio a Anne Marie Waters, candidata ferozmente anti-islâmica à direcção do já desmedidamente xenófobo UKIP. Realmente desastroso é que se, embora com imensa dificuldade, ainda ia sendo possível separar os dislates-“bigmouth” da obra gravada, desta vez, eles invadem e apoucam as canções de forma irremediável. Num álbum em que dir-se-ia existirem apenas três temas – Israel, os media e sexo oral -, as hostilidades abrem-se em modo de "glam" artriticamente pesadíssimo com a portentosa proclamação... err... trumpiana, “Teach your kids to recognize and to despise all the propaganda filtered down by the dead echelons mainstream media”. Um pouco mais adiante, naquilo que até poderia ser uma sedutora variação de Debord/Vaneigem sobre O Elogio da Preguiça” (“Spent the day in bed, very happy I did, yes I spent the day in bed, as the workers stay enslaved (...) Oh time, do as I wish, time, do as I wish (…) And no bus, no boss, no rain, no train”), de súbito, regressa a obsessão: “Stop watching the news! Because the news contrives to frighten you, to make you feel small and alone, to make you feel that your mind isn't your own”. O que, convenhamos, combina mal com a rudimentar retórica tablóide da morosa "Israel" (“they who reign abuse upon you, they are jealous of you”), tema que, no tango de casino de "The Girl From Tel-Aviv Who Wouldn't Kneel", desenvolve com uma argúcia política de taxista (“What do you think all these conflicts are for? It's just because the land weeps oil”).


Em memória do saudoso "Margaret On The Guillotine", há gestos de simpatia – o “Axe the monarchy” da imagem da capa, a paráfrase anti-militarista sobre "Universal Soldier”, de Buffy Sainte-Marie, em "I Bury The Living" (“You can’t blame me, I'm just an innocent soldier, (…) Give me an order! I'll blow up a border, give me an order and I'll blow up your daughter”) – mas, de um modo geral, com dois ou três momentos de contacto oro-genital para criar o clima adequado, tudo se resume a um serôdio "flower power" de Twitter: “They say presidents come, presidents go, but all the young people they must fall in love”. Para lavar os ouvidos, nada melhor do que optar pela reedição de The Queen is Dead (1986), estojo de algumas das máximas preciosidades Morrissey/Marr ("The Boy With The Thorn In His Side", "Bigmouth Strikes Again", "There’s A Light That Never Goes Out"…). Com todos os bónus, raridades e "lives" de rigor, Alain Delon baleado, na capa, título subtraído a Hubert Selby Jr., e video de 13 minutos de Derek Jarman. Mas, sobretudo, com Morrissey ainda vivo.
O Bando dos Quatro (+ 1)

16 December 2017


Bem sabemos como a semiologia das imagens pode ser problemática. Mas isso não impede que, nesta piedosa obra de arte popular, a figura de São Marcelo possa fácil e embaraçosamente confundir-se com a do pobre José, o marido... err... coiso, da serigaita que andou enrolada com o Jeová.
A JOKE A DAY KEEPS THE DOCTOR AWAY (LX)