30 November 2017

Public Service Broadcasting - "Turn No More" (c/ James Dean Bradfield)


Material de estudo simplificado para
 acórdãos judiciais de inspiração bíblica
 
(daqui; clicar na imagem para ampliar)
Novos e interessantíssimos achados sobre o suposto túmulo no qual supostamente estaria sepultada uma personagem de ficção que supostamente morreu e ressuscitou - ou seja, supostamente pirou-se do suposto túmulo, na verdade, vazio
Era de nomear já a Comissão Técnica Independente que irá analisar as causas da tragédia

29 November 2017

NÓS


“Para quê, para que servem os poetas em tempo de indigência?”, pergunta Hélia Correia pela voz de Amélia Muge, citando o Hölderlin de “Pão e Vinho”. Não terão, porventura, ainda reparado mas, no que acabaram de ler, está, senão a totalidade, pelo menos, a semente de Archipelagos - Passagens, de Amélia Muge e Michales Loukovikas. Esta atribuição de autoria está, entretanto, tremendamente amputada. Acrescentem-se, então, como se deve, Armando Soares, Euripides, Fernando Lopes-Graça, Fernando Pessoa (bilingue), Giorgos Andreou, Giorgos Mitsakis, João de Deus, José Gomes Ferreira, José Niza, José Saramago, Beethoven, Manos Achalinotópoulos, Martín Codax, Panagiotis Tountas, Rosalía de Castro, Safo, Vasilis Tsitsanis e Violeta Parra. Aos quais, enquanto co-autores, haverá de se adicionar António José Martins e Filipe Raposo, duas dezenas de instrumentistas lusos e helénicos, três corais, a Orquestra de Cordas Palhetadas Tanassis Tsipinakis, e as vozes (faladas) de Maria José Muge e Hélia Correia.



Talvez não capaz de rivalizar com as 18 000 ilhas do arquipélago da Indonésia, mas, ainda assim, quanto basta para, em exercício de geometria vertiginosamente variável, os articular num amplo mapa que se alarga do Médio Oriente à Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), do Mediterrâneo ao Atlântico. Esta, a cartografia exterior. Porque aquilo a que, na verdade, deverá prestar-se atenção é ao labirinto de sentidos, palavras e ideias que é obrigatório percorrer para que “Nós, os ateus, nós, os monoteístas, nós, os que reduzimos a beleza a pequenas tarefas, nós, os pobres adornados, os pobres confortáveis, os que a si mesmos se vigarizavam olhando para cima, para as torres, supondo que as podiam habitar” consigamos descobrir o que há de comum e o que distingue Ítaca da Utopia, de Thomas More, como navegar entre "bulerias" e mornas nas ondas de Codax, qual o elo entre a Trácia e a Galiza, entre divertimentos exdrúxulos e as personas de Pessoa. Com a bússola de A Terceira Miséria, de Hélia, nas mãos de Amélia Loukovikas, a (des)orientar o percurso dos “emudecidos, irmanados com os sem-terra, nós, os futuramente esfomeados, bárbaros com os pés no alcatrão, bebedores de petróleo” que se interrogam: “De que armas disporemos, se não destas que estão dentro do corpo: o pensamento, a ideia de polis, resgatada de um grande abuso, uma noção de casa e de hospitalidade e de barulho?”.

28 November 2017


“I've never done an honest day’s work. I’ve never worked 9 to 5”. Then he pauses a beat: “And yet that is all I have ever written about”. (laughter) “I have become absurdly successful writing about something of which I have absolutely no practical experience (more laughter)"
Filthy Friends 
(Live on KEXP)

A IDENTIDADE É UM BICHO IRREQUIETO


Amélia Muge e Michales Loukovikas tinham-se encontrado, pela primeira vez, há seis anos, à volta de O Ouro do Céu, livro e CD contendo a poesia de Ares Alexandrou. Logo a seguir, em 2012, Periplus - Deambulações Luso-Gregas propunha-se aferir “a possibilidade de partilha de um território cultural e musical por Portugal e pela Grécia” apenas subordinado a uma fantasia: “ser marinheiro de um barco grego que entra num porto e se apercebe que está lá fundeado um barco português; à noite, vamos à única taberna do porto e os gregos começam a cantar as suas canções, depois, os portugueses, e, no final, acabamos a cantar juntos”. Após o entreacto de Amélia Com Versos de Amália (2014) em que voltaram a colaborar, agora, portos e embarcações multiplicaram-se em Archipelagos - Passagens

O plano de viagens ampliou-se consideravelmente... 
Michales Loukovikas - Continuamos em plena água! Temos um imenso mar para navegar...
Amélia Muge - Dissemos que foi por um mero acaso que o Periplus apareceu numa altura em que a Grécia estava a ser tão falada. Se não fosse a Internet e ter olhado para uma página onde vi um senhor que me parecia vagamente o Pai Natal de férias, com aquela poesia fantástica do Ares Alexandrou, as coisas não teriam acontecido. Desta vez, o que espoletou este trabalho foi o convite da Aida Tavares, programadora do S. Luiz, para fazermos um concerto que não fosse exactamente o Periplus. Fazer, então, o quê? Não vamos ter este trabalho todo só para um concerto, vamos fazer um disco. Agora estamos numa fase como a da mãe que acaba de ter um filho e grita “Nunca mais!...”, porque, realmente, dá muito trabalho.  

Não navegaram sempre à vista da costa... 
ML - Não foi uma escolha muito consciente. O Periplus foi um momento de encontro. Mas também um diário de bordo. Navegámos por um mar onde nunca havíamos estado mas guardando o conhecimento dos viajantes anteriores. Agora, fizemo-nos ao mar, já sabemos orientar-nos pela Estrela Polar. 
AM - Pensámos que poderíamos pegar num dos pontos do Periplus e alargá-lo. As ilhas, como metáfora, podem levar a muitos lados mas, pensando só em nós dois, já há duas ilhas. O que basta para fazer um arquipélago. Pensamos sempre nas ilhas como coisas isoladas mas, se há quem se veja obrigado a dominar a arte dos contactos, são os ilhéus. 
ML - Tive um programa de rádio – "Mesogeíou Paráplus" (Viajar pelo Mediterrâneo) – de onde veio Periplus. Desta vez, propus Archipelagos. E o poder das coincidências revelou-se logo: o poema da Hélia Correia, A Terceira Miséria, que é um dos pilares deste álbum, começa com uma citação de Hölderlin cujo poema mais extenso se chama... Arquipélago! Transformou-se, assim, no ponto de partida da nossa viagem. 
AM - Temos umas três ou quatro folhas com títulos possíveis... alguns transformaram-se em títulos das sequências, como foi o caso das “Ilhas Imaginárias”.


Em vez de realçar as marcas das músicas nacionais, vocês parecem procurar uma espécie de lugar no qual já não é possível dizer exactamente onde acaba a Grécia e começam Portugal ou Cabo Verde...
AM - Não diria que é uma coisa instintiva porque os intintos também vão mudando ao longo da vida. Não sei se será por ter nascido em Moçambique mas sempre pensei que a identidade é um bicho muito irrequieto... Quando fiz o Não Sou Daqui, não estava a dizer que não era de um sítio, dizia que não era de um sítio enquanto não me apropriasse dele. As identidades, quando estão muito fechadas em certezas, acabam por ser daninhas para o peito. A última coisa que me apeteceria fazer era um trabalho onde dissesse ‘aqui está o melhor da nossa portugalidade!...’ E, se tivesse à minha frente alguém que quisesse fazer o mesmo, não o faria comigo, de certeza. Quando já passámos a fase da mansarda, quando não se tem como vocação o isolamento, fazemos o que diz o Hölderlin no início do poema: Onde está Atenas? Resta ainda algum sinal dela para que o marinheiro de passagem a possa mencionar ou lembrar?!” Haverá aqui alguma coisa que valha a pena mencionar ou lembrar, grego, português, português com ligações à língua inglesa como o Pessoa de "The Hours", grego até com vontade de compor uma buleria? Vamos a isso, desde que não se transforme numa confusão em que não seja possível fazer viagem nenhuma. Desde que as coisas possam reagir umas com as outras e isso crie um outro sentido. 


Pegam, então, numa melodia ou num ritmo apenas como matéria-prima musical independentemente da proveniência? 
ML - Quando era miúdo, tocava com o meu pai num grupo que interpretava música de todo o mundo. Era fantástico. Depois, à medida que ia crescendo, fui-me apercebendo de que a Grécia tem uma tradição musical riquíssima oriunda da Ásia Menor, da Itália, dos Balcãs... é impossível falar de uma música grega “pura”, tal coisa não existe. Em lado nenhum. Há anos escrevi um artigo em que demonstrava que nenhum dos antigos instrumentos gregos, era grego! O único indiscutivelmente de origem grega é o hydraulis (orgão hidráulico)! Não consigo ir além de dizer que sou mediterrânico.
AM - Os problemas poderão ter a ver com modelos de linguagem: por exemplo, como compor para aquele poema da Hélia que vem no arrasto do decassílabo, do verso branco? 
ML - Por acaso, em "A Ruína da Grécia", mal ouvi “Nós, os ateus, nós, os monoteístas, nós, os que reduzimos a beleza a pequenas tarefas...” surgiu-me logo a ideia para a melodia... 
AM - Por outro lado ainda, há a certeza de que, qualquer coisa que nós façamos, acaba por ter um eco qualquer do que já foi feito. Nomeadamente, quando adaptamos o 2º andamento da Eroica, do Beethoven, lembramo-nos das tristes experiências que existiram quando se tentou transformar em canto partituras clássicas. Mas, para mim, A Terceira Miséria, da Hélia, é o texto mais surpreendente no que respeita a uma reflexão não estritamente política. É política porque tem a ver connosco – estamos todos envolvidos nestas causas e nos efeitos do que se está a passar – e pondo tanto o dedo em nós. (Teatro São Luiz - Sala Luis Miguel Cintra, quarta-feira 29, 21h)

26 November 2017

Aaaaaah... "vales de compras"!... mas o naco mesmo saboroso é “Isto é feito de forma séria, não tem nada a ver com paquistaneses que se põem numa camioneta para ir a um comício! Então, diz-se uma coisa dessas nas trombas de tanta gente que participou nesses maravilhosos eventos multi-kulti?...

... e "grupos focais" também deverá ir para esta listinha

25 November 2017

Darren Hayman - Wigsley, Nottinghamshire (Thankful Villages/XX)

Secção do PS de Arroios/Almirante Reis, versão 2.0?



"A oposição esclarecida (não a oposição obscurantista e retrógrada) ao processo de cibernetização fez parte do programa dos protagonistas da revista Tiqqun*. Das suas posições teórico-políticas decorria logicamente o apelo à sabotagem. A figura do "hacker" surge aí com um potencial revolucionário, aquele que sabe introduzir-se pelos lados fracos da engrenagem, que só ele conhece. O "hacker" espalha o pânico, a imprevisibilidade que a cibernética não pode calcular, pratica o acto insurrecional irrecuperável" (AG)

* ver também aqui 
STREET ART, GRAFFITI & ETC (CXCI)

Lisboa, Portugal, 2017


24 November 2017

23 November 2017

2017 - Prémio-Jardim Infantil
"O que vocês querem é ganhar"

A Direita 

Em português (mais ou menos científicozinho), 
o que significa "bio ao natural"?

"At the very point when work seemed to be withering away, we all became obsessed with it. To be a good citizen, you need to be a productive citizen. There is only one problem, of course: there is less than ever that actually needs to be produced. (...) The answer has come in the form of (...) 'bullshit jobs'. (...) But people working in bullshit jobs need to do something. And that something is usually the production, distribution and consumption of bullshit. (...) What we need is an anti-bullshit movement. It would be made up of people from all walks of life who are dedicated to rooting out empty language. It would question management twaddle in government, in popular culture, in the private sector, in education and in our private lives" (aqui)
2017 - Prémio de Pusia 

Marselfie Placebo de Sousa  

21 November 2017

VINTAGE (CCCXCV)

The Del-Byzanteens - "Apartment"

QUASE HUMANA

  
Passou como uma entre dezenas de reportagens histericamente deslumbradas perante o festival de cintilações digitais "pour épater le bourgeois" da Web Summit. Apenas outro número de variedades para distrair os neurónios. Porém, talvez tivesse valido a pena escutar com bastante atenção aqueles poucos segundos em que a robô Sophia – ou o ciberventríloquo que pela boca dela falava –, quase casualmente, avisava: “Nós, robôs, não desejamos destruir coisa nenhuma. Mas vamos roubar-vos os empregos. E isso será uma coisa boa. Afinal, trabalhar é uma chatice”. Em quatro frases, Sophia (a deusa gnóstica da sabedoria) conseguia conjugar aquilo que, desde há considerável tempo, inúmeros estudos prevêem (em versão suave: no prazo de 45 anos, a Inteligência Artificial realizará praticamente todas as tarefas mais eficazmente que os humanos) com o mandamento Situacionista que, recordando a etimologia da palavra “trabalho” – tripalium, um instrumento de tortura –, ordenava “Ne travaillez jamais!” 



Algures entre Paraíso e Inferno, alguma coisa, decerto, estará a surgir. Em Ether Antenna, recente curta metragem do australiano Michael Candy, contudo, já não existem senão robôs, concebidos durante uma residência artística na Robotics Association of Nepal. Desejando “fundir espiritualidade e robótica e, simultaneamente, explorar a paradoxal afinidade humana para a tecnologia e a ecologia”, inspira-se em duas lendas da tradição budista sobre o "bodhisattva" Avalokiteshvara e o Buda Sakyamuni. Mas o que, para Candy, verdadeiramente esteve na origem da criação deste universo pós-humano foram as “wandering, wondering qualities” das “astral soundscapes” de Pauline Anna Strom que utilizaria na BSO. Discretissimamente activa na cena da música ambiental e proto-"new age" de S. Francisco – onde, nos anos 70, descobriu Brian Eno e os Tangerine Dream –, Strom, cega de nascença, entre 1982 e 1988, gravou, confidencialmente, sete álbuns em vinil e cassete, nos quais, desenhou um mundo sonoro “com raizes em todas as épocas menos no presente”. Em formato “obras escolhidas”, Trans-Millenia Music recolhe, agora, 15 peças desta pioneira da música exclusivamente produzida em sintetizadores: sussurrada, delicadamente barroca, coreografias siderais e jogos de água e luz de um requintado bucolismo “from space gardens where we feel secure”. Quase humana.

18 November 2017

Como diz o outro, está lá tudo no gudebuque...
 
Recordar é (mesmo) viver

(+ aqui)
Os verdadeiros Mormons tal como Joseph Smith os queria, antes de, em 1890, o "profeta" Wilford Woodruff ter recebido um fax urgente do tipo de Kolob

17 November 2017

Boa lista mas incompleta... faltam (entre expressões e palavras): "estamos a falar de...", "resgatar", "cenário dantesco", "rasto de destruição", "lá está...", "a montante/a jusante", "zona de conforto", "afectos", "janela de oportunidade", "pensar fora da caixa", "compaginar", "palco mediático"... (à suivre)

16 November 2017

E se "a pessoa" tiver uma "orientação forte" no outro sentido? (não esquecer a "avaliação do mulherio")

"Méne, tou como uma moca tal que nem sei onde larguei o charro..."
Micah P. Hinson – "Micah Book One"

Não te preocupes, é garantido 
(isso e muito mais)
A "jovem formada numa universidade americana, graças ao Estado angolano" deveria saber que "tinham havido variados ministros" é, gramaticalmente, um bocado coxo

14 November 2017

Protomartyr - "Male Plague"


PROFETAS


Nem no mundo dos profetas – ramo de actividade muito popular na Antiguidade, do qual, numa das mais famosas sequências de Life Of Brian, os Monty Python nos dão uma mui convincente representação – reinava a igualdade: de quase uma centena de praticantes desse ofício registados na Bíblia, apenas quatro (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) são considerados “profetas maiores”. Todos os outros foram irremediavelmente desqualificados como “menores”. Um deles, Miqueias, embora nunca se elevando, de facto, à altura das visões de um Ezequiel – pioneiro da "sci-fi" e dos encontros imediatos de 3º grau –, não deixou de ser um profissional competentissimo que, de acordo com a "job description", anunciou calamidades e devastações e antecipou verdadeiramente o futuro, denunciando a desonestidade dos mercados e a corrupção nos governos.



Tanto assim que as suas palavras chegam, ainda hoje, até nós, na voz de outro Miqueias (em inglês, Micah), que, exactamente a meio de Micah P. Hinson Presents The Holy Strangers, durante os 7’28” de "Micah Book One", sobre fundo de "easy listening" para caixa de música de recorte country, recita, ipsis verbis, quase na íntegra, aquele peculiar tipo de "billet doux" que Jeová gostava de enviar aos seus intérpretes terrenos: “I will make this world a heap of rubble, (...) I will pour her stones into the valley and lay bare her foundations, all her idols will be broken to pieces, all her temple gifts will be burned with fire; (...) I will go about barefoot and naked, I will howl like a jackal and moan like an owl for her wound is incurable”. Hinson, o puríssimo "misfit" de Abilene, Texas, que já em "God Is Good" (de Micah P. Hinson & The Nothing, 2014) mantinha uma relação problemática com as escrituras dos pastores hebraicos da Idade do Bronze (“My true love don't need me no more, she's gone down that golden shore (...) and my Good Book claims that God is good”), optou, agora, pela composição de uma “modern folk opera” com libreto vagamente em torno da biografia de uma família em tempos de guerra. E fá-lo naquele registo de Johnny Cash despejando a última gota de "bourbon" a meias com Leonard Cohen, que, desde a abertura com "sample" de pregador evangélico, "intermezzi" instrumentais, e episódios arrepiantes, culmina num "Come By Here’/Kumbaya" sonâmbulo, cambaleante e terminalmente desalentado.

12 November 2017

O p.o.v.o. exige que o Marselfie Placebo de Sousa vá ao baptizado 
da Lana Caprina!!!  
(e que a Sodona Madonna seja convidada)
Quando o debate político que abre telejornais regressa ao nível do Pantelhão, é hora de atribuir ao kitsch a dignidade de Estado que já merece (chato, chato, era se tivesse sido servido um "buffet" de carnes frias)
STREET ART, GRAFFITI & ETC (CXC)

Odivelas, Portugal, 2017

11 November 2017

A lusa glória da Web Summit 
faz recordar outra


"(...) em Aachen, na Alemanha, a UEFA atribuia a Portugal a responsabilidade pela organização do 12º campeonato Europeu de Futebol. Na comitiva oficial lusitana, que saudou entusiasticamente este triunfo (...), destacavam-se dois nomes: o presidente da comissão executiva da candidatura portuguesa, Carlos Cruz, e o ministro da tutela, José Sócrates". (António Araújo - Da Direita à Esquerda)

A JOKE A DAY KEEPS THE DOCTOR AWAY (LVIII)


Radicais livres (LIX)

 

10 November 2017


Protomartyr - "Half Sister"

Pussy Riot - "Police State"




07 November 2017



The Beatles - "Back In the U.S.S.R."

À BEIRA DOS LIMITES


Anos antes de ter iniciado o percurso de compositor, Michael Nyman trabalhou como crítico de música e terá sido até ele quem – num artigo de 1968 para “The Spectator” sobre Cornelius Cardew –, pela primeira vez, aplicou o conceito de minimalismo à música. Foi, contudo, no livro Experimental Music: Cage And Beyond (1974) que se dispôs a “isolar e identificar o que é a música experimental e a distingui-la da música de compositores de vanguarda tais que Boulez, Kagel, Xenakis, Birtwistle, Berio, Stockhausen, Bussotti, concebida e interpretada segundo os caminhos já muito batidos mas santificados da tradição pós-Renascentista”. Naturalmente, o ponto de partida era John Cage e os seus 4’33" e, no de chegada, encontrávamos os quatro cavaleiros do minimalismo: La Monte Young, Philip Glass, Steve Reich e Terry Riley. Na secção dedicada a este último, sublinhava que, ao contrário dos outros, ele era “um performer e improvisador que compõe mais do que um compositor que executa”. E citava-o: “É preciso estar â beira do abismo para se manter o interesse e não nos deixarmos apenas arrastar tocando algo que já conhecemos. Se nunca nos abeirarmos do limite nunca saberemos a que ponto de exaltação nos poderemos erguer. Apenas correndo riscos lá chegaremos”



In C (1964) constituiu uma espécie de Big Bang da música minimal: 53 frases de extensão variável deveriam ser repetidas um número de vezes arbitrariamente definido (a duração média da peça é de hora e meia mas nada impede que seja muito maior ou menor), podendo cada músico iniciar ou interromper a execução da sua frase quando o desejasse, embora respeitando a ordem atribuída. Um dos músicos (algumas edições da partitura indicam que “tradicionalmente, é uma rapariga bonita”) repetirá metronómica e indefinidamente a nota C (dó) num instrumento de percussão afinada. Simultaneamente estruturada e aleatória, foi já gravada por dezenas de colectivos, desde orquestras convencionais aos Acid Mothers Temple, Africa Express, Shanghai Film Orchestra ou à Guitar Orchestra de Adrian Utley (Portishead). Agora, na versão dos Brooklyn Raga Massive (um colectivo multiétnico de músicos moldados pela tradição clássica indiana mas “sem fronteiras”), eleva-se nos timbres de sitar, sarod, bansuri, tabla, dulcimer, oud, violino, violoncelo, contrabaixo, "dragon mouth trumpet", guitarra, cajon, riq e vozes, como que num fascinante regresso de Riley ao idioma oriental que, inicialmente, o inspirou.

05 November 2017

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XXXVIII)


Terry Riley - Les Yeux Fermés & Lifespan

Com Philip Glass e Steve Reich, Terry Riley integrou a troika minimalista norte-americana que, na imediata descendência de La Monte Young, e – menos directamente – de John Cage, estaria na origem de uma atitude de rejeição dos procedimentos hiperintelectualizados da(s) música(s) “contemporânea(s)” decorrente(s) do serialismo. Muito pensamento filosófico oriental, alguma afinidade com o espírito da improvisação livre do jazz e o contacto com executantes de música clássica indiana, acabaram por gerar um idioma que, regressando ao tonalismo e ao modalismo, se exprimiu através de longas peças de ciclos em espiral, submetidos a ínfimas e progressivas modificações, atmosféricas e hipnóticas. Glass converteu-o em fórmula que pôs a render, com proveito, em Hollywood, Reich preferiu uma via mais próxima da do “compositor clássico” e Riley permaneceu, de certo modo, o “odd one out”, objecto de culto tão privado quanto venerado pelas margens da pop ou, noutro extremo, pela “new age”. Les Yeux Fermés & Lifespan (música para dois filmes obscuros de Joel Santoni e Alexander Whitelaw, de 1972 e 1974) poderá ser uma óptima iniciação à sua música. (2007)

"Je est un autre" nunca mais? Pessoa/Caeiro/Campos/Reis et alia acabou-se?

Protomartyr - "Come & See"

04 November 2017

Recordar para tentar viver
"Já não posso com tantos afectos, tanto desejo de estar em cima das pessoas, tanta vontade de envolver tudo e todos numa sopa de pathos, como se fosse o pathos o que mais falta à vida pública portuguesa. Bem pelo contrário, o que falta é um quantum de racionalidade, nem sequer um quantum, que já por si só seria revolucionário, mas uma gigantesca dose de razão, de argumentos, de raciocínios, em vez de tornar a vida pública num festival de beijos e abraços, e de muita lamechice em relação à dor alheia. O problema é que quase se pode fazer uma correlação: quanto mais lamechice, menos reformas e menos mudanças. E de mudanças e reformas é que a nossa vida pública mais precisa" (JPP)

03 November 2017


Food for thought (LIX)

Oferta da Catalunha ao mundo:
 

"Le Moyen Age n'était pas une époque d'obscurité et de barbarie. Du moins pas partout. Au XIVe siècle, par exemple, la Catalogne est une région prospère, civilisée et commerçante. Où la religion ne règne pas sans partage sur les âmes et où le plaisir tient sa place. C'est à ce moment (...) qu'un médecin, visiblement inspiré par des auteurs persans, écrit Le Miroir du Foutre, (...) 'seul traité connu à ce jour en Europe qui délivre en clair un art des positions, avant la Renaissance', prend en compte, comme un ouvrage moderne, la composante psychologique de l'amour physique, et le caractère de la femme, ses comportements. Par exemple, l'utilisation qu'elle fait parfois de 'godemichés, en cuir doux rembourré de coton, en forme de pénis', qu'elles 's'introduisent dans le sexe jusqu'à ce qu'elles soient satisfaites'. (...) Le tout est bardé d'une belle morale qui prouve que les sexologues contemporains n'ont rien inventé: 'L'homme doit essayer de mettre toute sa volonté dans l'acte, dans la beauté de la femme, sa noblesse et dans le moment de plaisir qu'il est en train de vivre. En effet, il n'est vraiment pas agréable que les deux plaisirs n'arrivent pas ensemble. Lorsque l'homme finit tôt et que la femme tarde, elle est très lésée'" (+ aqui e aqui)