24 June 2024

 
(sequência daqui) Na verdade, se todos os álbuns de Richard Thompson tivessem o título - Watching The Dark - da caixa-compilação de 1993, não seria motivo de escândalo. Neste Ship To Shore - sucessor de 13 Rivers, de 2018 -, as cartas são colocadas na mesa logo ao início: “Another day without a dream, without a hope, without a scheme, another day that finds you crawling on your knees” ("Freeze"). Logo a seguir, em "The Fear Never Leaves You", a voraz assombração da guerra espreita: "If you should dream the dreams I dream, you’d never sleep again, the fear never leaves you (...) ten years, twenty or more, the same monster comes through the door, If I could unsee the things I’ve seen, comrades all to smithereens". E, para além do espantalho que todos imediatamente reconhecemos, a quantos outros se ajusta a descrição "Just pretend you are that star, that everybody says you are, just pretend that life’s a bloody show, and don’t let doubt possess your mind, leave that demon far behind, just believe and they won’t ever know"? O bem lubrificado engenho - Taras Prodaniuk (baixo), Michael Jerome (bateria), Bobby Eichorn (guitarra), David Mansfield (violino) e Zara Phillips (voz) - que lhes atribui espessura e profundidade é o trampolim mais que perfeito para a filigrana e labaredas de Thompson, guitarrista da estirpe dos exemplares únicos como Hendrix, Verlaine ou Neil Young. Há anos, o fiel discípulo Bonnie ‘Prince’ Billy explicaria tudo definitivamente: “Ser alguém que apresenta o que cria como uma completa extensão de si mesmo foi sempre o meu sonho. Compreendemos isto muito bem se repararmos num músico como Richard Thompson quando executa um solo. A canção que ele interpreta ganha verdadeiramente vida nesse instante. Durante esse momento de generosidade, nós somos Richard Thompson. É uma dádiva esse tipo de relação com o seu talento, como se ele se apossasse do nosso cérebro” .

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