11 March 2021

(álbum integral)

(sequência daqui) A música enquanto cavalo de Tróia dos textos e das ideias dispõe, então, de uma via de acesso milimetricamente pavimentada: para edificar “a big complicated album that was hi-fi, rhythmic, passionate and painful”, foi necessário imaginar o ritmo como uma jaula (“O que colocamos nos espaços entre as barras de ferro? Quanto menos emoção se situasse no ritmo, mais espaço haveria, para o resto da música e da voz”), entregá-la a uma propulsiva dupla – Kieran Adams e Philippe Melanson – com o nó sinusal sintonizado na onda de Bryan Devendorf, dos National, controlar com mão de ferro os momentos de régua e esquadro no estirador e os de absoluta liberdade, apontar sax, flauta, guitarra, piano e sintetizador para um lugar algures entre uns Prefab Sprout e Blue Nile tingidos de jazz. E, aí chegados, encarnar, verdadeiramente, o papel de estação meteorológica dedicada à detecção dos sinais do apocalipse. Se tudo não correr irremediavelmente mal, talvez possa estabelecer-se um acordo acerca do diagnóstico. Aquele que, à “Stereogum”, Tamara propõe, é, sem dúvida, acertado: “O problema não é a ignorância. Uma teoria da conspiração não é ignorância, é conhecimento falso que arrumamos num espaço acerca do qual nada sabemos. Ignorância é quando pensamos não ser ignorantes. E, quando, perante um mistério, não temos a humildade de dizer ‘é possível que eu não compreenda’. No momento em que sabemos que não compreendemos, talvez consigamos começar a ser mais cautelosos e a fazer mais perguntas”. Resta saber se funciona.

10 comments:

  1. Não me leve a mal, mas mão de ferro não é o mesmo que mão-de-ferro.
    Essa igualdade só existe para os acordistas e o João não o é, pois não?

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  2. Não levo nada a mal, claro. Mas o uso do hífen é daqueles aspectos do "acordismo" ou "não acordismo" a que não ligo absolutamente nenhuma. Tanto escrevi sem como poderia tê-lo feito com. Mas, genericamente, sou anti-acordista feroz.

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  3. Ainda bem. Está do lado certo da ortografia...

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  4. Também o senhor seu pai está do lado correcto...
    Se quiser dar uma vista de olhos, https://www.publico.pt/2020/05/20/culturaipsilon/opiniao/acordo-ortografico-foradalei-1917313

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  5. Estamos ambos do lado correcto, é verdade. Mas, no texto desse link, não o consegui descobrir...

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  6. Às vezes, escrevo umas coisas contra o AO90. Chamo-me João Esperança Barroca e tenho 2 textos no Público e umas 3 dezenas num jornal aqui de Tomar. Se quiser, posso enviar-lhe alguns desses escritos.

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  7. Se me enviar os links, agradeço.

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  8. Aqui vai ele: https://www.publico.pt/autor/joao-esperanca-barroca
    Tem lá o meu endereço electrónico.
    Não sei se estarão disponíveis só para assinantes...
    Os do "Cidade de Tomar" não estão em versão digital.

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