LE ROI SE MEURT
Ouvir o anúncio da minha morte
foi como ouvir uma língua estranha:
deram-me um esquisito passaporte,
sem dizerem se é pra vale ou montanha.
Pouco me vale reinar em qualquer Espanha,
a morte quer é haver-se comigo.
Porquê mostrar, a mim, sua gadanha,
achará que sou, pra ela, um perigo?
O que perturba é ela conhecer-me,
parecer saber, de há muito, quem sou,
andar atrás de mim a envolver-me!
Mas agora o momento chegou:
ser rei já muito pouco adianta,
quando a morte me aperta a garganta.
Eugénio Lisboa
NOTA: LE ROI SE MEURT é o título de uma notabilíssima peça
de teatro, de Eugène Ionesco, que vi, encenada em Paris. Como
o título me convinha, roubei-lho. É assim que se faz.
Tinha acabado de ler. Um abraço bem apertado, João.
ReplyDeleteObrigado.
ReplyDeleteSem palavras, agora o vazio dos dias
ReplyDeleteQue notícia tão triste. Eu dizia que ele era o mais jovem de quantos escreviam no espaço público, sempre tão acutilante, truculento, brincalhão.
ReplyDeleteEste ano está a ser devastador. Ainda há dias morreu a mãe de uma amiga e semanas antes, a mãe de um outro. Foi também o ano da morte da minha mãe. Dizia-me no outro dia uma amiga minha, médica e amiga também da minha mãe, que há que ver o outro lado: viveram vidas longas, preenchidas, felizes. Quando eu me queixava que a minha mãe parecia bem até tão pouco antes de morrer, ela respondeu, 'E ainda bem, não é? Antes isso do que ter sofrido durante muito tempo.'
E às vezes são estes comentários que nos fazem ver as coisas por um outro prismas e aceitar mais facilmente o que nos é sempre doloroso.
Fiquei muito triste pela partida do seu pai. Mas dele ficam milhares de palavras e de sorrisos que todos vamos poder ler e reler como se ele ainda por cá andasse a partir a loiça toda.
Um abraço, João
Obrigado. Vamos continuar a partir a loiça toda.
ReplyDeleteSempre o vi como o seu alter-ego. Tenho pois a felicidade de achar que ainda cá está. Sem ter o prazer de conhecer nenhum de Vós pessoalmente, uma tremenda beleza o que percepciono desta relação Pai/Filho. Um forte abraço, t
ReplyDeleteObrigado.
ReplyDeleteE agora, João, quem vai escrever poemas aos gatos?
ReplyDeleteVou sentir a falta de seu pai, que conhecia há muitos anos do JL e mais recentemente do blog, sem saber que era seu pai.
Um abraço para si, outro para o Bowie (que espero esteja bem), outro para a gatinha que perdeu o maior amigo.
Maria
Obrigado. O Bowie também já não anda por cá...
ReplyDeleteLamento muito.
DeleteAndava há uns tempos para lhe perguntar por ele...
Os meus sinceros pêsames.
ReplyDeleteO seu pai esteve sempre do lado certo! Isso é só exclusivo de alguns...
Um abraço, João.
ReplyDeletePC
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/vamos-continuar-a-le-lo-16876200
Obrigado, Pedro.
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