O AZUL DISTANTE
Quando, no dia seguinte a ter estado presente numa reunião da Socialist League, William Guest acorda, descobre-se, inesperadamente, num mundo maravilhoso onde não existem propriedade privada, sistema monetário, tribunais, casamentos, prisões, nem autoridade, e toda a estrutura social assenta na propriedade comum dos meios de produção. Porém, tal estado de felicidade não se atingira através da industrialização e do progresso tecnológico que libertaria a humanidade do pesado fardo do trabalho mas pelo regresso a uma idílica sociedade agrária respeitadora da natureza, na qual toda a actividade deveria ser livre, criativa e fonte de prazer. Durante a sua deslumbrada viagem de barco pelas águas límpidas do Tamisa, vai descobrindo igualmente que a Hammersmith Bridge que sempre conhecera feita de aço fora substituida por outra, em pedra, mais bela que a Ponte Vecchio de Florença, o barqueiro que o conduz veste-se à maneira do século XIV, a fétida Manchester fora apagada do mapa, e, de um modo geral, tudo à sua volta se parecia com uma tela de Bruegel.
Muito resumidamente, é este o enredo, situado em 2102, de News From Nowhere (1890), o romance de ficção política do escritor, socialista e figura central do movimento Arts & Crafts, William Morris, que, em Electric Eden, Rob Young cita, observando: “A mente britânica, até certo ponto, não parece ser capaz de imaginar o futuro senão sob a forma do passado”. Justamente aquilo que poderia dizer-se acerca de The Weight of the Sun, terceiro tomo do quarteto Modern Studies. O que, no caso, não é sequer depreciativo: essencialmente pastoral e bucólico, o álbum da banda de Emily Scott, Rob St. John, Joe Smillie e Pete Harvey (gente com pedigree do conservatório, ao rock, à folk, e à "sound art"), gerado entre o Lancashire e a Escócia, não fecha as portas ao presente mas, na sua equação de “classicismo e experimentalismo com uma canção pop no meio”, escutam-se distintamente ecos dos Fairport Convention (revistos pelos Stereolab), dos Velvet Undergound ("Sweet Jane" a viver numa eterna "Sunday Morning") ou do "chiaroscuro" dos Elysian Fields e Mazzy Star. Uma folk de câmara, outonal e suavemente psicadélica, impressionista e de harmonias tangenciais, a dar corpo às palavras de Rebecca Solnit que, em "The Blue Of Distance", evocam: “The world is blue at its edges and in its depths. This blue is the light that got lost”.
"numa reunião da Socialist League"????????????!!!!!!!!!
ReplyDeleteAinda se fosse numa reunião da Liga Libertária o enredo faria sentido.
Agora a partir de uma reunião SOCIALISTA?????!!!!
Socialismo é miséria, exploração.
Vini Reilly de Santarém
Vá estudar um bocadinho de História e, depois, comente.
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