10 December 2009

BEM-VINDOS, ENTÃO, ÀS "NOVAS OPORTUNIDADES" 
EM TODA A SUA GLORIOSA E ATERRADORA NULIDADE!
parte I (fonte)


Be afraid, be very afraid!...

GUIA DE OPERACIONALIZAÇÃO DO REFERENCIAL DE COMPETÊNCIAS-CHAVE:
será concedida a canonização instantânea a quem demonstrar a bravura suficiente para, por entre a densa floresta de:

"implementações", "itens estruturantes", "portefólios reflexivos de aprendizagens", "motores de desocultação das competências", "critérios de evidência", "avaliações de procedimentos implementados", "centralidades da pessoa adulta", "núcleos geradores", "agregações das unidades de competência", "combinatórias coerentes dos elementos da competência", "elementos de operacionalização fundamentais à sua implementação e utilização nas etapas de reconhecimento, validação e certificação de competências-chave", "pedagogias restauradoras da reflexividade na aprendizagem", "valores heurísticos de auto e hetero-descoberta e de elicitação de competências", "novas arquitecturas no conhecimento, na evidenciação das aprendizagens prévias, que a revelação de si mesmo/a permite", "capacidades de revelar significados intrínsecos da pessoa e resignificá-los, enquanto ferramenta formativa de construção de registos biográficos espacio-temporais, de explicitação de competências e habilidades"

destinadas a:

"ultrapassar receios e relutâncias acerca do processo de reconhecimento, ao vitalizar criticamente o saber 'auto-transformar-se', ao facilitar e captar a incerteza, a diversidade da vida, rica e complexa"



não esquecendo que:

"uma pedagogia orientada para a autonomia dos adultos passa necessariamente por uma acção consciente do sujeito envolvido, que o torne capaz de se 'projectar'. Os adultos 'são' as suas experiências de vida e é essa realidade central que importa tornar consciente e dar forma no processo RVCC. Implica criar uma dinâmica, um clima de confiança e de interajuda, que forneça feedback, valorizando iniciativas de mudança e de risco, que motive e estimule o 'conceito de si enquanto aprendente' e o sentir-se 'competente' para aprender. Isto significa reforçar o locus de controlo interno, através da consciencialização e da apropriação do que é aprender sobre o aprender"

e que:

"os elementos de complexidade permitem distinguir os critérios de evidência em cada uma das competências-chave"

orientando-se para:

"induzir e modelizar formas mais solidárias, de aprender, de fazer e de ser, porque comummente negociadas, partilhadas e integradas", "permitir a desconstrução de representações sociais, estereotipadas, mediando o refazer de percursos, porventura, fragmentados ao trazer uma maior inteligibilidade aos factos relatados, num estilo mais amigável e mais próximo daquele que os candidatos eventualmente usam no seu dia-a-dia", “colocar-se face à vida, atribuir-lhe um sentido, construir um pensamento legitimado pela experiência existencial, compreender o modo como o sujeito se formou e deu forma à sua existência [o que] é, de facto, um processo de interrogação, de descoberta, de criação e não de adequação ou eventual transformação em função de algo previamente definido e conhecido”



se atinja:

"a noção de competência" que "inclui também a parte indizível das capacidades e permite materializar a percepção subjectiva"

por meio de um:

"procedimento [que] se apresenta como dinâmico e progressivo, entre momentos-chave de avaliação, e introspectivo e reflexivo sobre práticas para o (auto)reconhecimento através da partilha entre candidatos e mediadores"

possibilitando:

"uma abrangência de todo um leque de competências independentemente do tempo e do espaço, modos e forma de mobilização",

... será concedida a canonização instantânea, dizia, a quem, por entre essa densa floresta de inanidades, for suficientemente bravo para chegar ao final (não cheguei, baqueei após 33, de um total de 147 páginas) sem ter saído para a rua, de Kalashnikov em punho, disposto a exterminar as 100 primeiras vítimas inocentes que se lhe atravessem no caminho.

(2009)

5 comments:

Anonymous said...

É por estas que decidi abraçar a profissão de coveiro.

João Lisboa said...

Mas, como coveiro, poderás desocultar a parte indizível das tuas capacidades e materializar a percepção subjectiva de todo um leque de competências independentemente do tempo e do espaço, modos e forma de mobilização. Quero dizer, ainda sacas um doutoramento-NO, na boa.

Anonymous said...

http://1.bp.blogspot.com/_GFo2NhVEkEk/SMfqhPhnjqI/AAAAAAAAA4A/wBQIDQ2Cj84/s1600-h/coveiropraia.JPG

Tou lixado!

RL said...

Como JL não chegou lá e poupou a muitos o trabalho de ler os primeiros capítulos, dei logo um salto de gigante para o final do Guia:

Anexo 1, p. 107
«Ficha-Exemplo 8: O CO2
Núcleo Gerador (sic): Ambiente e Sustentabilidade
(...)
(vários sics depois...)

Ciência (sic)
(...)
Tipo III – Explorar as relações entre clima e concentração atmosférica de CO2 (efeito de estufa) ao longo da história, incluindo a influência da interferência humana no ambiente desde a era pré-industrial e fundamentar as conclusões recorrendo à análise estatística para estabelecer correlações e produzir extrapolações.»

Como vê, e remetendo para a «discussão» de há uns posts atrás, qualquer um (não desfazendo nos candidatos) pode "estabelecer correlações" e "produzir extrapolações" dos dados do CO2, recorrendo, claro, à elementar "análise estatística".

Bem sei que não estarei a ser justo para o programa Novas Oportunidades, pois desenquadrei a citação, que cabe - aí sim, muito bem - no desenvolvimento da competência (sic) «Mobilizar conhecimentos sobre a evolução do clima ao longo do tempo e a sua influência nas dinâmicas populacionais, sociais e regionais». (Anexo 1, p. 105).
É isto, isto!, que falta aos climatologistas: frequentar o Programa.

ps: porque será que, regra geral, são os incompetentes a continuamente falar de «competência» (esta praga dita "pedagógica" que mina o ensino actual, do básico ao superior...)?

João Lisboa said...

"É isto, isto!, que falta aos climatologistas: frequentar o Programa"

Eles e não só:

http://lishbuna.blogspot.com/2009/07/como-diz-o-outro-esta-gente-e-um-nojo.html

"porque será que, regra geral, são os incompetentes a continuamente falar de «competência» (esta praga dita "pedagógica" que mina o ensino actual, do básico ao superior...)?"

Mecanismo de compensação?...