19 October 2009

O MITO DA QUEDA SEGUNDO A DONA GERTRUDES
(aliás, José Saramago)



Adão e Eva - Lucas Cranach, 1526

Tal como a pré-publicação de Caim pelo "El País" o revela: Dona Gertrudes repete, palavra por palavra, o que lhe ensinaram na catequese - com inclusão da imaginária "maçã" nunca referida na Bíblia e só muitos séculos mais tarde inventada pela arte religiosa europeia -, perdendo, assim, uma óptima oportunidade (Dona Gertrudes vê-se como intelectual, uma "intelectual do povo" mas intelectual) de se atirar a um dos mais intrigantes nacos do Génesis. Aquele em que Jeová proíbe que Adão e Eva comam, não de nenhuma "maçã", mas do "fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal". Isto é, a permanência no Jardim do Paraíso pressupõe o desconhecimento do Bem e do Mal, isto é da MORAL. Dona Gertrudes é uma exegeta literalista mas certas saborosas surpresas que uma leitura literal pode proporcionar escapam-lhe. Ou então, repugna-lhe a ideia que a felicidade possa ser um estado de amoralidade e prefere-lhe a versão-BD-para-o-povo-com-maçã-e-tudo que sempre é mais fácil de descascar.

(2009)

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