23 October 2018

ATRAVESSAR A PONTE

  
Louis Forster jura que não é utilizador da Go-Between Bridge, a ponte que, em Setembro de 2009, numa votação online proposta pelo City Council de Brisbane, na Austrália, foi assim baptizada em homenagem à banda de Grant McLennan e Robert Forster: “É preciso pagar uma portagem de 6 dólares, não tenho dinheiro para isso”. Aliás, Louis, filho de Robert, garante também que nunca ouviu a música dos Go-Betweens: “Às vezes, vêm ter comigo e fazem-me perguntas sobre um disco ou sobre uma determinada canção e chega a ser embaraçoso porque, de facto, nunca os escutei. Tenho sempre de pedir imensa desculpa e dizer que não faço ideia do que estão a falar”. Não é fácil acreditar: quem, sem qualquer informação sobre os autores, escutasse Up For Anything (2016) – o álbum de estreia dos Goon Sax, banda de Louis Forster, James Harrison e Riley Jones – não hesitaria em dizer que, muito provavelmente, tratar-se-ia de uma preciosa colecção de inéditos dos Go-Betweens. E se, continuando a não revelar nomes, se adiantasse tratar-se de um trio de Brisbane constituído por dois guitarristas/compositores e uma miúda baterista, as últimas dúvidas desapareceriam. 



Não sendo, aparentemente, um caso de disputa familiar – Robert Forster, há 2 anos, abençoou publicamente a obra da descendência –, só uma tentativa de esquivar-se à maldição dos "sons of" (numa já razoável lista de crias de famosos, apenas Jeff Buckley se mostrou à altura da ilustre paternidade) poderia explicar a recusa da óbvia linhagem. Ou, então, teremos entre mãos uma extraordinária prova da existência de ADN musical que caberá à ciência investigar. Agora que We’re Not Talking, o segundo álbum, é publicado, apetece dizer que aquilo que a Forster e McLennan levou quatro gravações para atingir – o esplendorosamente orquestral Liberty Belle And The Black Diamond Express (1986) –, os Goon Sax realizaram em duas: o díptico de abertura "Make Time 4 Love" (“Let's feel nervous in your room again”) e "Love Lost" (“So I look through film stores wondering what I should read, so I forget what movie I originally wanted to see”) passaria sem suspeitas por "bonus tracks" de Liberty Belle e as restantes dez, em diversos graus de parentesco – eles, agora, erigem altares às Raincoats, aos Orange Juice ou aos Love mas, se acrescentássemos Young Marble Giants, a genealogia ficaria mais completa –, não desmentem a filiação. Um dia destes, Louis Forster ainda há-de atravessar a Go-Between Bridge.

7 comments:

t. said...

Valha-nos a substância que é, pela segunda vez, francamente recomendável. A capa é deveras farsola.

João Lisboa said...

Há piores... https://lishbuna.blogspot.com/2010/10/funniest-unintentionally-sexual-album.html, https://lishbuna.blogspot.com/2010/08/momento-de-singular-felicidade-estetica.html, https://lishbuna.blogspot.com/2010/01/e-por-estas-e-muitas-outras-que-ao.html, https://lishbuna.blogspot.com/2011/02/o-ano-seguir-ao-ano-do-tigre-xliv-2011.html

:-)

t. said...

:-))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

Vou ter que concordar.

t. said...

ter 'de', em bom rigor.

João Lisboa said...

Tenho sempre essa dúvida.

Anonymous said...

derivativos, portanto.

João Lisboa said...

Hereditários.